Por falta de recursos, quatro hospitais filantrópicos de MT devem fechar as portas na sexta-feira
A Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, o Hospital Santa Helena e o Hospital Geral Universitário, junto com a Santa Casa de Rondonópolis, devem parar com todos os tipos de atendimento a partir da próxima sexta-feira (18), caso não haja o repasse de novos recursos. Em uma coletiva realizada na manhã desta terça-feira (15), diretores dos hospitais afirmaram que não há mais recursos para continuar atendendo.
A presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicos Prestadoras de Serviço na Área da Saúde do Estado de Mato Grosso (FEHOSMT), Elizabeth Meurer, juntamente com o presidente do Hospital Santa Helena, Marcelo Sandrin, o representante da Santa Casa de Cuiabá, Duilio Mayolino e a presidente do Hospital Geral Universitário (HGU), Flávia Galindo se reuniram em uma coletiva de imprensa para falar da situação dos hospitais. Meurer afirma que não há mais dinheiro para comprar insumos e medicamentos.
“Nós vínhamos conseguindo abrir alguns caminhos de negociação, mas não temos mais dinheiro pra insumo, não temos mais dinheiro pra medicação, pra comida, e é por isso, infelizmente que vamos tomar esta atitude”.
Meurer afirmou que a prefeitura, o Estado e a Assembleia Legistalitva já foram procurados e estão cientes da situação.
“Conversamos com o prefeito, nós tivemos uma reunião com o presidente da assembléia, com o Governo, e colocamos todas as nossas dificuldades para eles. Deixamos claro que nós temos 24 horas, e se não houver nenhum dinheiro novo, nó não teremos condições de continuar e os hospitais vão fechar as portas, porque nós não podemos trazer o paciente para dentro do hospital e não poder cuidar dele”, afirmou.
O presidente do Hospital Santa Helena, Marcelo Sandrin, afirmou que há seis meses não recebem repasses do Estado. Ele disse que por dia, cada um dos hospitais perde pelo menos R$ 20 mil.
“Não estaríamos aqui reunidos se não fosse extremamente grave a situação. Estamos há dois anos negociando com o Governo, nas três instâncias, porque as verbas do SUS vem do governo Federal, do Estadual e do Municipal. Há dois anos nos reunimos com o Governo do Estado, e lá foi combinado que uma auditoria seria feita, e esta auditoria confirmou os déficits que todos estes hospitais tem. Cada dia, perdemos pelo menos R$ 20 mil reais por dia atendendo os 100% de seus leitos contratados com o SUS”.
Sandrin afirmou que um compromisso havia sido firmado entre os hospitais filantrópicos e a Secretaria de Estado de Saúde, de que o Estado honraria parte do déficit das instituições.
“Quando entrou o secretario João batista, ele se comprometeu a honrar 70% do déficit, e nós concordamos, com uma reavaliação em seis meses, para que voltasse a pagar 100% desse déficit. Pagaram durante três meses, e isso se interrompeu, já estamos há seis meses sem receber este pagamento. E nós não temos mais de onde tirar o dinheiro”.
O representante da Santa Casa de Cuiabá, Duilio Mayolino, afirmou que a instituição estuda mudar seu funcionamento.
“Nós estamos tentando transformar a Santa Casa em 40% SUS e 60% particular e convênio. Não tem condições mais de nós ficarmos só com o SUS. Nós vamos tentar isso, como exemplo do que foi feito nas Santas Casas de Porto Alegre e Maceió, e vamos tentar seguir este caminho para não ficar nesta dependência”.
Cerca de 3 mil profissionais trabalham nas quatro instituições em Mato Grosso. As unidades contam com 830 leitos, sendo 160 para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Aproximadamente 1.040 atendimentos são realizados diariamente e mensalmente são feitos cerca de 800 partos.
O Governo do Estado alega que não há um contrato direto firmado com os hospitais filantrópicos e o que existiu foi uma portaria, com duração para três meses, onde seria feito o pagamento de R$ 2,5 milhões por mês. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) afirma que apenas tem contrato com os municípios, e por causa disso faz repasses para que os municípios façam as contratações necessárias.
O repasse feito nos três meses, segundo a Secretaria, foi emergencial por causa das dificuldades que os hospitais enfrentavam. A SES afirmou que o Estado repassa aquilo que é possível repassar, por causa da crise, e como Cuiabá e Rondonópolis tem hospitais filantrópicos, o estado já faz um aporte mensal, para que o município faça as contratações.
A secretária Municipal de Saúde, Elizeth Lúcia de Araújo, afirmou que a prefeitura não tem atrasos com as filantrópicas, e que faz um aporte no valor de R$ 760 mil mensais às instituições. De acordo com a secretária, todos os valores que chegam ao município são repassados aos hospitais, e que sozinha a prefeitura não consegue auxiliar os hospitais.
“O repasse que é feito para os filantrópicos é do Ministério da Saúde, vem direto para o municipal e fazemos o repasse. Depois que o Estado suspendeu o pagamento do déficit, a prefeitura não tem condições de assumir essa contrapartida, primeiro, porque 68% dos atendimentos das filantrópicas são de pacientes do Estado todo, então o Estado tem sim que entrar com uma contrapartida dessa diferença. O município de Cuiabá não pode assumir sozinho esta demanda”.
Os representantes dos hospitais filantrópicos ainda devem ir à Brasília nesta quarta-feira (16), para conversar com o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, para buscar alguma solução para a situação.