Ex-secretário passa noite sozinho em cela
O advogado Paulo Taques, que é ex-secretário da Casa Civil de Mato Grosso, passou a noite em uma cela comum do Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), para onde são levados os presos que possuem ensino superior. Paulo Taques foi preso nessa sexta-feira (4) suspeito de tentar prejudicar as investigações sobre as interceptações ilegais feitas pela Polícia Militar. Apesar da cela ser comum, ele está sozinho no espaço.
Em nota, Paulo Taques negou ter ordenado as interceptações telefônicas e obstruído as investigações e não agiu no sentido de estimular a ocultação ou destruição de provas.
Na decisão que determinou a prisão de Paulo Taques, o desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) Orlando Perri, afirma que há fortes indícios de que o ex-secretário tenha ligação com a quadrilha que teria feito as escutas ilegais.
Segundo o desembargador, existem indícios de que o ex-secretário esteja envolvido na fraude do sistema de protocolo do governo do estado, que fez com que o dossiê contendo provas dos grampos que seria entregue pelo promotor Mauro Zaque ao governador, fosse trocado por um pedido de obras na região noroeste do estado.
Além de Paulo Taques, estão presos o cabo da Polícia Militar Gerson Correa Júnior, e os coronéis Evandro Lesco, Ronelson Barros e Zaqueu Barbosa, que é apontado como um dos líderes do esquema.
Ex-secretário da Casa Civil de MT é preso por grampos
Em nota, o governo do estado disse que apoia as investigações, mas que contesta o teor da decisão do desembargador. Diz que o ex-secretário chefe da Casa Civil não exerçe influência sobre agentes públicos e que jamais a estrutura das secretarias de Comunicação e da Casa Civil do estado foi usada para favorecer defesas pessoais.
No documento, o governo diz também que o atual secretário de Segurança, Rogers Jarbas, nunca agiu para facilitar o acesso de documentos sigilosos a Paulo Taques. Além disso, o desembargador afirma que ele teria tentado mover uma investigação paralela contra o promotor de Justiça Mauro Zaque, ex-secretário de Segurança Pública da atual gestão, que denunciou esse esquema de grampos à Procuradoria Geral da República (PGR).
Para isso, Rogers Jarbas convocou duas delegadas que investigaram a ex-amante de Paulo Taques, Tatiane Sangalli e, nas perguntas feitas à elas, teria tentado relacionar Mauro Zaque às interceptações.
De acordo com Perri, há indícios de Paulo Taques estaria atuando fortemente para ter acesso a informações privilegiadas sobre as investigações, mesmo fora do governo, por ter sido o homem de confiança do governador Pedro Taques, durante o período em que foi secretário.
O magistrado argumenta que o ex-secretário deveria agir como qualquer cidadão comum e requerer à Justiça o acesso às informações.
Escândalo que levou ex-secretário à prisão veio à tona em maio
O esquema
O esquema que teria grampeado mais de 100 pessoas, entre elas políticos que fazem oposição ao atual governo, foi denunciado em uma reportagem do Fantástico em maio deste ano. O caso foi denunciado à Procuradoria Geral da República pelo ex-secretário de Segurança Pública do estado, Mauro Zaque, que é promotor de Justiça.
Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas por meio de um método conhecido como "barriga de aluguel', cujo resultado nunca foi apresentado.
Perri alega que ainda não há indícios de envolvimento do governador no esquema, ao contrário do que o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira, disse em depoimento prestado à Corregedoria da Polícia Militar no mês passado. Segundo Siqueira, o governador tinha conhecimento do esquema de escutas clandestinas operado pela Polícia Militar em uma central clandestina.
O suposto envolvimento de Pedro Taques nessas interceptações clandestinas está sendo investigado pela PGR.