Computador some e desembargador suspeita que arapongagem continua em MT
Perri ainda tenta identificar "mantenedor financeiro" do esquema de escutas ilegais no Estado
Mesmo com as prisões de oficiais do alto comando da PM, o desembargador Orlando Perri acredita que o “sistema Sentinela”, usado para interceptações telefônicas de políticos, desembargadores, advogados e jornalistas ainda pode estar funcionando “a todo vapor”. A suspeita consta na decisão judicial que determinou a prisão do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques.
Segundo Perri, até o momento, o equipamento usado para as interceptações não foi apreendido. “Conforme ressaltei no decreto de prisão preventiva no âmbito do Inquérito Policial Militar, o Sistema Sentinela [utilizado para prática dos grampos ilegais] até o momento não foi apreendido, havendo mesmo alta probabilidade de estar, em algum canto, operando “a pleno vapor”, uma vez que seu acesso é remoto”, disse desembargador.
Ele colocou ainda que o braço financeiro da organização, visto que as ações geravam gastos de luz, água, internet, aluguel e condomínio do prédio onde eram realizadas as escutas, também não está indetificado.
Perri aponta que o valor de R$ 24 mil, usado pelo coronel Evandro Lesco para comprar um aparelho de escuta, não é suficiente para manter os custos do grupo. Reitera que o ex-secretário da Casa Militar não teria arcado com todos os gastos sozinho e que há sérios indícios de que Paulo Taques tenha participação em arcar com parte dos custos.
“As circunstâncias indicam que não estamos diante de mera reunião de pessoas para a prática de crimes, mas, sim, de uma organização muito bem articulada, inclusive com aporte financeiro considerável, pois, segundo levantamento feito pelo encarregado do IPM, o investimento inicial foi de R$ 24.000,00 [vinte e quatro mil reais], que, acrescentadas as despesas de aluguel [R$ 1.500,00], luz, água, telefone, internet e o “colocation” [R$ 1.000,00], fora as despesas com combustível, viaturas e efetivo, chega-se a um valor considerável, não se sabendo ao certo quem era o principal mantenedor”, descreve trecho de decisão divulgada.
CHIP DA CLARO
O desembargador ressalta que a suspeita de que o sistema sentinela ainda pode estar funcionando é porque que vários números de celulares utilizados como “desvio” das ligações telefônicas ilegalmente interceptadas, funcionaram normalmente, mesmo depois da denúncia apresentada pelo então Secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Mauro Zaque de Jesus.
A decisão narra que a maioria dos terminais, da operadora Claro, chegou a ser cancelado no ano de 2016. Porém, um determinado terminal utilizado como desvio das escutas telefônicas encontrava-se ativo até maio desse ano.
Para Perri essa informação é um “fortíssimo indício de que o malsinado grupo criminoso estava [ou ainda está] em plena atuação”.
PRISÃO
Paulo Taques foi preso na manhã desta sexta-feira (4) em sua residência no condomínio Florais Cuiabá. Ele é acusado de participar do esquema de grampos ilegais.
O esquema foi denunciado pelo promotor Mauro Zaque, ex-secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, à Procuradoria Geral da República. Zaque revelou que um grupo de policiais, que realizava investigações de crimes no Estado, inseria números alheios as investigações para serem grampeados.
Entre os alvos de escutas ilegais estão advogados, médicos e políticos. A ex-amante de Paulo Taques, a publicitária Tatiane Sangalli, também foi alvo de interceptações.
Por conta do esquema, ainda estão presos os coroneis Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Ronelson Barros, além do cabo Gérson Correia.
O tenente-coronel Januário Batista e o cabo Eucliedes Torezan também foram presos, mas conseguiram liberdade junto ao Tribunal de Justiça. Os dois decidiram colaborar com as investigações.