Donald Trump estaria planejando privatizar a Estação Espacial Internacional
Já se sabe há algum tempo que a Casa Branca vem considerando cortar o financiamento da Estação Espacial Internacional (EEI) até 2025 para liberar recursos para a NASA, uma agência pela qual o presidente norte-americano Donald Trump quer enviar astronautas de volta para a Lua mas que também, para a qual, ele propôs que isso fosse feito com um orçamento curto.Segundo o Washington Post, documentos internos agora mostram que Trump quer transformar a EEI em uma “espécie de empreendimento imobiliário em órbita, administrado não pelo governo, mas pelo setor privado”.
Sim, o presidente dos Estados Unidos quer privatizar a Estação Espacial Internacional e vai pedir US$ 150 milhões em uma proposta de orçamento nesta segunda-feira (12) “para viabilizar o desenvolvimento e maturação de entidades e capacidades comerciais que vão garantir que os sucessores comerciais da EEI — potencialmente incluindo elementos da EEI — estejam operacionais quando forem necessários”, escreveu o jornal. A NASA seria apenas um dos clientes da EEI ou dessa futura estação espacial privada teórica, revertendo o acordo atual em que o pessoal da NASA e seus parceiros internacionais administram a estação e conduzem experimentos a bordo.
Entretanto, o Washington Post também noticiou que a Casa Branca aparentemente não tem ninguém específico em mente para assumir a estação espacial, que custa entre US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões para operar e já custou ao governo federal dos EUA aproximadamente US$ 100 bilhões em construção, manutenção e custos operacionais. A EEI não tem um uso comercial claro, e esses outros governos certamente recusariam a ideia de entregar a estação ao setor privado. Até republicanos como Ted Cruz estão classificando a privatização completa como uma ideia “extremamente estúpida”, já que a EEI poderia potencialmente permanecer em uso até 2028 ou além.
“Como um conservador fiscal, você sabe que uma das coisas mais burras que você pode fazer é cancelar programas depois de bilhões de investimento quando ainda existe bastante vida útil pela frente”, Cruz disse ao Washington Post.
Conforme apontou o SpaceNews, a oposição de Cruz à ideia é provavelmente um sinal de que o plano do governo vai enfrentar enormes dificuldades no Congresso. A indústria privada também não está muito animada, já que a EEI é projetada para pesquisas, e ninguém está ávido em assumir o custo de sua manutenção.
“Será muito difícil transformar a EEI em posto avançado verdadeiramente comercial por causa dos acordos internacionais em que os Estados Unidos estão envolvidos”, disse Frank Slazer, vice-presidente de sistemas espaciais da Associação de Indústrias Aeroespaciais dos EUA, em entrevista ao Washington Post. “Ela (a estação) sempre será inerentemente uma construção internacional que exige envolvimento e cooperação multinacional do governo dos EUA.”
O ex-astronauta Mark Kelly recentemente escreveu no New York Times que, embora tenha havido um salto na atividade comercial na baixa órbita terrestre nos últimos anos, ela “sofreria uma parada brusca” se a EEI e suas missões científicas financiadas pelo governo que atualmente tornam essas empreitadas possíveis fossem interrompidas. Kelly ainda alertou que Rússia e China assumiriam a liderança em voos espaciais comerciais se os Estados Unidos desistissem de seu único posto avançado de longo prazo no espaço. Como o Guardian notou, desde o fim do Programa de Ônibus Espaciais em 2011, a NASA não tem meios de levar astronautas ao espaço e, atualmente, conta com foguetes russos Soyuz para levá-los à EEI; empresas privadas, como SpaceX e Blue Origin, não vão lançar missões tripuladas para a baixa órbita terrestre antes do último trimestre de 2018 ou do primeiro trimestre de 2019.
Trump tem pressionado para que a NASA mande astronautas de volta à Lua, possivelmente para estabelecer uma colônia a longo prazo que possa ser usada como um local de testes ou suporte para missões a locais mais distantes, como Marte. O New York Times, no entanto, noticiou que, mesmo em um cenário ideal em que a agência seja capaz de superar obstáculos como o baixo financiamento e a ausência contínua de uma liderança designada, qualquer pouso na Lua aconteceria muito depois de Trump deixar o cargo (mesmo que fosse reeleito). Apesar de a NASA estar atualmente trabalhando no Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês) e na espaçonave Orion para substituir o Programa de Ônibus Espaciais, a agência não deve lançar nenhuma missão tripulada usando essa tecnologia antes de 2021-2023.