Maria Clara Spinelli revive Marilyn Monroe nos 55 anos de morte da atriz: ‘tenho que provar que sou uma mulher’
Há 55 anos, o mundo chorava a morte prematura do maior símbolo sexual da história do cinema. A carreira de Marilyn Monroe durou uma década. O suficiente para marcar gerações, que, até hoje, se sentem fascinadas pela mistura de fragilidade e sensualidade da emblemática atriz. Quando começou a construir o perfil de Mira, sua personagem em “A força do querer”, Maria Clara Spinelli teve Marilyn como inspiração.
“Eu pensava nessa mulher livre, à frente do seu tempo que, ao mesmo tempo em que tinha uma carga emocional muito forte, era de uma leveza imensa”, compara: “A Mira, apesar de ser cúmplice de ações questionáveis, tem essa vulnerabilidade. Marilyn é minha inspiração”.
Não por acaso, a atriz foi escolhida pelo EXTRA para representar uma mulher que, apesar da aparente suscetibilidade e fraqueza, era de uma força avassaladora. Maria Clara sabe o que é precisar daquela força que vem lá sabe Deus de onde. A atriz fez a transição de gênero já na fase adulta. Sim, ela nasceu num corpo masculino. “Até entender o que era isso foram muitos anos. Mas, desde pequena, eu sabia que havia algo errado, porque eu era uma menina”, conta: “Perguntava para minha mãe se eu iria crescer, virar adulta. E aquilo era uma tortura. Eu só queria morrer e nascer de novo no corpo certo”.
Maria Clara revela que nunca tentou, mas pensou em tirar a própria vida algumas vezes. “Digo que tive dois nascimentos. Um quando minha mãe me pariu e outro quando fiz minha cirurgia de redesignação sexual”, observa ela. Na escola, ela sofria bullying diariamente. Afinal, aquela figura andrógina, sensível e tímida confundia e despertava a ira de muitos. “Não eram as crianças, mas os adultos que incutiam nelas esse ódio”, relembra: “Uma vez, eu apanhei numa festa. Nem me lembro o motivo. Mas não fiquei acuada. Disse que iria à delegacia”
Em seu terceiro trabalho na TV, esta é a primeira vez que Maria Clara é desvinculada do rótulo de atriz transgênera. “Tenho que enaltecer isso. Agradecer a Gloria Perez, que me convidou para um papel feminino, e a TV Globo que está bancando isso num horário nobre”, avalia.
As comparações com Marilyn ganham contornos ainda mais visíveis quando pensamos que, tanto a americana quanto a brasileira foram ou são vítimas dos estereótipos: “Ela tinha que provar o tempo inteiro que era boa, que não era uma loura gostosa e burra. Além de talentosa, tenho que provar que sou uma mulher”.