Adversários de Pedro Taques nas eleições de 2014 tiveram telefones grampeados durante a campanha
Adversários políticos do governador Pedro Taques (PSDB) tiveram os telefones grampeados clandestinamente durante as eleições de 2014, dentro do esquema montado por policiais militares e que teve repercussão em maio deste ano.
Segundo consta na denúncia feita pelo ex-secretário estadual de Segurança Pública, promotor de Justiça Mauro Zaque, e também no Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou as condutas dos policiais acusados de participarem do esquema, os advogados José do Patrocínio e José Antônio Rosa - que atuavam na defesa das coligações dos candidatos Lúdio Cabral (PT) e José Riva (PSD), respectivamente - e o jornalista José Marcondes "Muvuca" (PHS), estão entre os primeiros a serem grampeados no esquema, entre agosto e outubro daquele ano.
O viés político do esquema de arapongagem é confirmado pelo coronel Jorge Catarino de Morais Ribeiro, que conduziu o IPM sobre os grampos, ao denunciar cinco policiais militares por criarem um "Núcleo de Inteligência" para fazer interceptações telefônicas com o intuito de obter informações privilegiadas.
No IPM, o coronel relata que, para conseguir as autorizações judiciais e fazer a interceptação de telefones, a PM usava como justificativa um relatório do chamado "Núcleo de Inteligência", onde afirmava que a quebra de sigilo telefônico era necessária para investigar crimes de policiais militares. No entanto, de acordo com Jorge catarino, o núcleo não existia dentro dos quadros da Polícia Militar, que por sua vez já conta com a Diretoria da Agência Central de Inteligência (DACI).
“Só há um argumento para que este escritório não funcionasse na DACI, que é o real, quer dizer, o interesse dos seus idealizadores, desde o início, como parece indicar, era de vasculhar a intimidade de pessoas, utilizando como subterfúgio investigação de alvos criminosos e, o mais gravoso é que nos meses de setembro e outubro de 2014, com finalidade política”, afirmou o coronel responsável pelo inquérito.
Denúncia
Com base no IPM, o Ministério Público denunciou os coronéis Zaqueu Barbosa (ex-comandante da PM), Evandro Lesco e Ronelson Barros (ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar), o tenente-coronel Januário Batista, e o cabo Gerson Correa Junior (servidor da Casa Militar). Com exceção de Batista, os demais denunciados estão presos.
Eles foram presos entre maio e junho deste ano. Todos negam terem cometido quaisquer crimes e aguardam transferência para uma penitenciária de segurança máxima em Mato Grosso do Sul.
Paulo Taques, que é advogado e primo do governador, Pedro Taques, foi preso na sexta-feira (4), também por suposto envolvimento no esquema. Paulo Taques ocupava o cargo de secretário da Casa Civil desde o início do atual gestão e deixou o governo dias antes do esquema vir à tona.
O esquema
O esquema dos grampos foi denunciado em uma reportagem do Fantástico em maio deste ano. Segundo a denúncia, mais de 100 pessoas tiveram as conversas grampeadas, entre elas, políticos de oposição ao atual governo estadual, advogados, médicos e jornalistas. Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas.
O esquema também foi denunciado à Procuradoria Geral da República pelo promotor Mauro Zaque. Ele afirmou que, em 2015, quando ainda estava no governo, ouviu o coronel Zaqueu Barbosa dizer que as interceptações telefônicas eram feitas por determinação de Taques. O promotor de Justiça afirma que levou o assunto ao governador e que este ficou constrangido, mas não fez nenhum comentário.
Zaque disse ainda ter avisado Taques por meio de dois ofícios. O primeiro chegou a ser enviado para o MPE, mas a investigação foi arquivada depois de cinco dias por falta de provas. O segundo, que o governador alega nunca ter recebido, foi protocolado na Casa Civil, mas cancelado no mesmo dia e substituído por outro, conforme apontou auditoria da Controladoria Geral do Estado.
Até o momento, segundo o desembargador Orlando Perri - que conduz as investigações sobre os grampos clandestinos no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) -, não há indícios de envolvimento do governador no esquema.
Porém, o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira, disse em depoimento prestado à Corregedoria da Polícia Militar no mês passado, que o governador sabia do esquema. Segundo Siqueira, o governador tinha conhecimento do esquema de escutas clandestinas operado pela Polícia Militar em uma central clandestina.
O suposto envolvimento de Pedro Taques nessas interceptações clandestinas está sendo investigado pela PGR. O governador nega qualquer envolvimento com o esquema de espionagem ocorrido durante a gestão dele.
Antes do relatório da CGE vir à tona, Taques chegou a entrar com representação contra Zaque em instituições como o Conselho Nacional do Ministério Público e a PGR, acusando-o de falsificação de documento público.
FONTE: G1 MT