Ex-deputado revela que todos deputados desviavam verba da Assembleia
Em um dos vídeos que integram sua delação premiada, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Geraldo Riva, reclama que apenas seu gabinete foi alvo de busca e apreensão na Operação Metástase enquanto, em sua avaliação, todos deveriam ter sido vasculhados para apreensão de documentos em setembro de 2015 quando o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) deflagrou a operação.
O ex-deputado lamenta que apenas servidores ligados diretamente ao seu gabinete foram expostos, alguns indevidamente, já que não ficavam com os valores da verba de suprimento, se limitando a fazer saques e repassar aos chefes de gabinete. Riva garante que funcionários dos demais 23 gabinetes também agiam da mesma forma, a mando de seus chefes. A delação de José Riva foi homologada em fevereiro deste ano pelo desembargador Marcos Machado, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
Os depoimentos de Riva sobre a Operação Metástase foram prestados na tarde do dia 18 de outubro de 2019 e integram o anexo 19 de sua delação premiada. Na gravação, o ex-presidente da Assembleia afirma que todos os deputados da legislatura entre 2011 e 2015 participaram dos desvios de finalidade da verba de suprimento.
Cita, inclusive, ações penais, inquéritos e investigações que tramitam no Tribunal de Justiça de Mato Grosso sob segredo de Justiça porque envolvem deputados que ainda são detentores de mandato eletivo. Nesse caso, são beneficiados pelo chamado foro privilegiado.
ALCANCE SOCIAL E POLÍTICO MONITORADO
Outra revelação feita por José Riva, é que além de prestar assistencialismo a moradores de cidades do interior, a prefeitos e vereadores, eram feitos monitoramentos para saber do "alcance social e político" dessas ações. "Nosso gabinete foi atingido pela busca e apreensão e em função disso apenas o nosso gabinete tem funcionários denunciados, mas que todos os gabinetes recebiam suprimentos de fundo, que todos se utilizavam do mesmo modus operandi", afirma o ex-presidente da Assembleia.
Na Operação Metástase, deflagrada em 23 de setembro de 2015, foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra 21 servidores da Assembleia Legislativa. No entanto, Riva garante em sua delação premiada que apenas dois deles foram beneficiados pelo esquema: Vinicius Prado Silveira e Hilton Carlos da Costa Campos.
"Um dos grandes beneficiados dessa verba eram o senhor Vinícius e o senhor Hilton que cobravam pelas notas. Cobravam, inclusive os impostos que não pagavam e que esses servidores apenas tiveram seus nomes usados, pois o pagamento dessas despesas ilícitas era uma decisão nossa, às vezes, assessorada por um conselho que nós montamos dentro do gabinete pra analisar o alcance da ajuda que era dada, o alcance político, alcance social", contou o político que comandou a Assembleia Legislativa por 20 anos se revezando nos cargos de presidente e primeiro secretário, funções que lhe permitiam ter autonomia para decidir onde e como usar o orçamento da Casa.
Mesmo admitindo que dava as ordens para a concretização do esquema, o ex-deputado reforça em vários momentos que os demais parlamentares também deveriam ter sido investigados e expostos na época, pois se beneficiavam politicamente do assistencialismo com o dinheiro das verbas de suprimentos. "Então, frisar também que não só o desvio, nós sabemos que caracteriza o ilícito, mas também a utilização diversa daquilo que é previsto e o benefício político que nós tínhamos e que outros deputados tinham em função da utilização desse recurso", pontua José Riva.
Fonte: folhamax