Tudo que você precisa saber sobre o PrEP, medicamento que previne o HIV
O Truvada, medicamento usado na PrEP, é o mais perto que já chegamos de uma vacina contra o HIV. Trata-se de um pequeno comprimido azul que, tomado diariamente, estima-se que tenha 99% de eficácia em prevenir a infecção pelo HIV.
Esse tipo de abordagem preventiva, conhecida como PrEP (profilaxia pré-exposição), foi aprovada pelo FDA (órgão americano de regulamentação de medicamentos e alimentos) em 2012 e tem efeitos colaterais relativamente suaves. Por isso mesmo, dezenas de milhares de pessoas pelo mundo já estão tomando o medicamento, que se tornou a base das campanhas de muitas cidades contra o HIV/Aids.
Mas ter acesso a ele não é tão fácil quanto deveria ser, especialmente para os pacientes que não vivem nas grandes cidades. E há outras informações importantes sobre a PrEP que você precisa conhecer. Seguem alguns dados essenciais para mantê-lo informado.
1. Se você estiver interessado na PrEP, converse com outras pessoas que já fazem esse tratamento.
Às vezes conhecer as histórias de outras pessoais pode ajudar a reduzir sua ansiedade. Nem todo o mundo se sente totalmente tranquilo em usar o Truvada. Por isso mesmo, Eric Paul Leue, ativista da PrEP que vive em Los Angeles, sugeriu conversar com seus pares antes de procurar seu médico.
Para quem não conhece ninguém que esteja usando a PrEP (ou que prefira se manter anônimo), ele recomendou o uso de uma rede social como o Facebook para entrar em contato com outras pessoas que possam se dispor a lhe dar algumas dicas.
2. Ele não se destina apenas a homens gays.
Um terço dos casos de HIV diagnosticados em 2016 foi de usuários de drogas injetáveis e pessoas que não se identificam como gays ou bissexuais. Qualquer pessoa que tenha o risco de entrar em contato com o vírus, através de relações sexuais ou do uso de drogas injetáveis, deve pensar em seguir a PrEP, segundo diretrizes federais.
Leue disse que algumas atividades, como relações sexuais sem preservativo, aumentam as chances de se contrair o HIV. É importante ter consciência de seus riscos e encará-los com realismo.
"Quando você atravessa a rua com farol vermelho aceso, existe o risco de você ser atropelado por um ônibus", ele explicou. "Acho que as pessoas não deveriam pensar tanto 'eu sou uma pessoa com perfil de risco' e mais 'tenho consciência do risco. Entendo o que faço e sou franco comigo mesmo em relação a isso.'"
3. Alguns médicos talvez não prescrevam o medicamento.
O Truvada é eficaz, mas pode haver alguns médicos que hesitem em receitar o medicamento. É possível que alguns convênios médicos e serviços de saúde ainda tenham ideias equivocadas sobre a PrEP –o presidente da AIDS Healthcare Foundation certa vez descreveu o Truvada como "droga recreativa". Por isso eles talvez sigam as novas diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e se neguem a receitar o medicamento a pacientes que não sejam vistos como tendo perfil de "alto risco". Vale a pena conversar abertamente sobre isso com seu médico.
4. Peça a opinião de muitas pessoas.
É muito importante que você se responsabilize por sua saúde. Leue recomenda que as pessoas se preparem de antemão antes de irem à consulta médica, mas, se a conversa com o médico não for boa (ou se você não se sentir à vontade em conversar sobre PrEP com seu médico habitual), existem outras opções.
Este mapa mostra os provedores conhecidos de PrEP. Se você vive perto de um centro médico universitário, pense em procurar os especialistas em doenças infecciosas do centro. Para o médico Stuart Haber, de Nova York, especializado em PrEP, esses médicos "talvez sejam mais versados no uso do Truvada. Talvez o ambiente da discussão seja mais aberto."
5. Talvez seja possível obter a PrEP online.
Pesquise as opções de telessaúde. A Universidade do Iowa está fazendo experimentos com o TelePrEP, um serviço no qual pacientes que vivem na zona rural têm videoconferências com médicos situados fora de sua região. O site e app para celulares Nurx conect médicos com pacientes que procuram PrEP (e também anticoncepcionais) em 18 Estados americanos. Depois de responder a algumas perguntas básicas sobre saúde e informar qual é seu convênio médico, você será encaminhado para exames para averiguar a presença de infecções sexualmente transmitidas, que poderão ser feitos numa clínica ou usando o kit enviado pela empresa para colher amostras em casa. Se você for aprovado, o Nurx lhe mandará o medicamento pelo correio.
6. O medicamento não é 100% eficaz contra o HIV e não protege contra outras DSTs.
O Truvada não é uma pílula mágica. Se você tiver relações sexuais com um parceiro soropositivo com carga viral desconhecida, se o parceiro não usar preservativo e ejacular dentro de você, você correrá o risco de contrair o vírus. Tomar PrEP diariamente reduz em mais de 90% o risco de contrair HIV em relações sexuais, segundo o CDC, mas o medicamento não garante proteção total. Além disso, não protege contra outras doenças sexualmente transmissíveis.
7. É preciso ter acompanhamento médico.
Tratar-se com PrEP requer um acompanhamento médico regular. Depois de receber o medicamento, os pacientes que usam Truvada devem fazer acompanhamento médico e fazer exames de HIV e outras DSTs de três em três meses. O Truvada é mais eficaz quando é tomado diariamente..
8. O medicamento é caro, mas você talvez consiga ajuda financeira.
O Truvada custa entre US$8.000 e US$14 mil por ano por paciente, sem contar o custo das consultas e exames médicos. Mas existem muitas maneiras de baratear esse custo. Um deles é um cupom recebido do fabricante que garante um desconto de US$3.600 por ano.
9. O futuro está chegando.
Embora Haber tenha dito que ainda não há previsão de termos PrEP em apresentação tópica (para ser passada sobre a pele), é possível que dentro em breve o medicamento exista em versão injetável, numa injeção a ser feita a cada mês ou dois meses. Mais amplamente, porém, pode estar ocorrendo uma mudança profunda na prevenção e no tratamento do HIV.
O CDC confirmou que recentemente que "indetectável significa intransmissível" – ou seja, que soropositivos cujos exames de sangue não detectam traços do vírus deixam de representar risco de contágio para outras pessoas. E uma equipe de microbiólogos moleculares e imunologistas testou recentemente em macacos uma imunização passiva contra HIV. A guerra contra o HIV está longe de ter chegado ao fim, mas a PrEP é um bom lugar para começar. Para saber mais, os pacientes interessados podem informar-se melhor no site prepfacts.org, no grupo do Facebook PrEP Facts ou no site do Truvada.