Dilema de Sofia
O quão você está disposta (o) a abrir mão de um projeto em nome de algo que considera mais importante? Deparei-me com esta situação nos últimos dias. Ao ver meu filho reiteradas vezes adoecer em função da ida precoce para a creche, me perguntei se não era hora de parar para cuidar dele, exclusivamente. Inã está com 11 meses. Logo completa seu primeiro aniversário. Mas tomar uma decisão como esta requer amparo. Afinal, estar disponível para cuidar de uma criança full time exige de nós entrega. Dos dias que estamos juntos, ele pede colo com frequência, chama a atenção o tempo todo. Quer cuidado. Fica entediado se passamos o dia todo no nosso apartamento. Quer andar, ver movimento, brincar com o Fred (um Yorkshire que ama Inã de paixão).
E para me dedicar exclusivamente ao Inã, tive que abrir mão de algumas coisas momentaneamente (como dizia Chico Xavier: isso também passa). E isso foi possível porque tenho um parceiro (no sentido literal da palavra) que me apoiou e me ajudou nesse processo que é uma verdadeira escolha de Sofia. Enquanto ele estava na creche, conseguia trabalhar, ir ao mercado tranquilamente, tomar banho sem preocupação, almoçar sem pressa, até tirar um cochilo depois do almoço era possível. À disposição dele, as coisas ficam um pouco mais complicadas, uma vez que somos só nós dois em casa e ele quer atenção. Aproveito os cochilos dele para mexer algo aqui e acolá. Estou escrevendo justamente porque ele está no momento soneca. Embora ficar com ele me limite em certos aspectos, por outro lado me faz trabalhar algumas questões. Posso citar aqui a paciência, a disciplina, a organização, a administração do tempo, o cuidado com o outro, a economia de recursos, a criatividade, os dons culinários, a arte de dividir, entre outros.
Um fator foi preponderante nesse processo: saber que este é somente um período, que logo passa. Assim que ele estiver maiorzinho, não ficará doente com tanta frequência e poderei retomar a minha velha rotinha, se ela ainda couber no meu plano de vida. Quem sabe essa não seja a oportunidade de mudar o rumo das coisas? Aliás, Inã chegou fazendo várias mudanças em minha vida. A vida profissional (o jornalismo mais precisamente), que era onde achava ter encontrado a realização, deixou de fazer sentido. Um pouco dessa desconstrução veio também com a mudança que sofri no decorrer dos últimos anos. O nascimento do Inã apenas sacramentou isso. O projeto agora é ser mãe em período integral.
Pode ser que daqui a pouco as coisas se apertem e eu tenha que mudar completamente o planejado? Sim. Mas não posso deixar de tentar.
*Michely Figueiredo é jornalista, psicoterapeuta reecarnacionista, mãe do Inã, estudante de acupuntura, caçadora de amizades sinceras, apaixonada pelas oportunidades de transmutação