Olivia Torres fala de nova peça e conta por que decidiu se declarar lésbica publicamente
Longe das novelas desde "Tempo de amar", Olivia Torres está em cartaz no Rio com o musical "Lazarus", de David Bowie e Enda Walsh:
- Eu sempre fui uma "bowete", fã demais. A peça é uma continuação do romance 'O homem que caiu na Terra' (Walter Travis, 1963), que fala de um sujeito que vem de um outro planeta para este em busca de água. Mas a Terra, apesar de ter recursos em abundância, tem sido destruída pela sociedade. Bowie sempre foi um sujeito ligado nas questões de seu tempo.
Daqui a duas semanas, quando encerrar as apresentações no teatro, a atriz, de 25 anos, planeja se dedicar a projetos pessoais. Ela escreve o roteiro de um filme inspirado em suas descobertas com a própria sexualidade. Em janeiro, Olivia publicou o vídeo "Me enxergar" em seu Instagram declarando-se lésbica:
- Tenho tido vontade de falar sobre a construção de afeto. Havia uma dificuldade de eu me identificar com os romances do cinema e da literatura. Nos filmes e nos livros a que tive acesso, tem muito pouco sobre isso. Faltam referências lésbicas na nossa vida. Acredito que isso tenha impactado na minha própria descoberta, no meu desejo ao me relacionar com as pessoas. Agora estou tentando compensar e entender que minha vivência não é uma mentira. Assim como eu, outras pessoas passam por isso. Não é uma questão só minha, não sou uma aberração.
Olivia, que começou a atuar ainda criança, conta que, depois de mais de dez anos na interpretação, sentiu vontade de se expressar por trás das câmeras. Escrever roteiros com temas LGBT são sua inspiração. Ela diz que também se baseia na dedicação e no posicionamento de outras atrizes lésbicas:
- Eu já sabia que era lésbica há tempos, mas existia tanta pressão social que eu tentava olhar o menos possível para isso. Quando vejo artistas e outras mulheres que não estão no meio artístico falando sobre isso, acho maravilhoso. Para muitas, é uma libertação. Eu, por exemplo, já namorei homens, eu os considerava amigos, mas hoje vejo que não era no melhor estilo romântico. Há um grande cerceamento do desejo da mulher na sociedade. Uma pesquisa recente mostra que poucas mulheres se sentem satisfeitas ao se relacionarem sexualmente. Acho que isso é porque a maioria não compreende seus desejos.
Olivia, no entanto, afirma que ter tratado de sua sexualidade numa rede social não marcou o momento de assumir publicamente:
- Foi mais uma necessidade de me aproximar de uma linguagem cinematográfica do que de sair no armário. Antes, eu já saía na rua beijando mulheres na boca, já tinha conversado com meus pais sobre o assunto. Não tinha problema quanto a isso. Apesar de não ter saído do armário naquele momento, eu me fortaleci. Muitas pessoas vieram me procurar para falar.
O fato de ter coragem de falar sobre o assunto não isola a atriz do preconceito à classe LGBT:
- O preconceito é violento para muita gente. Eu tenho a sorte de estar inserida numa bolha e em segurança, então, nunca sofri agressão física. Sofro com a discriminação, mas ainda não me senti em alto risco. Quando ele está perto, tento me proteger. Lesbofobia é um assunto sério e aparece até quando os homens hiperssexualizam nossos corpos e transformam em fetiche o relacionamento entre duas mulheres. Apesar de fazer questão de ser livre, eu me mantenho ligada porque é perigoso.
Fonte: kogut