Médicos editam código genético pela primeira vez dentro do corpo humano
O DNA alterado foi injetado no olho do paciente junto com um líquido e, segundo os cientistas, ele ficará em observação durante um mês, para ver se o procedimento realmente funcionou e se sua visão foi restaurada. Se tudo der certo, os médicos planejam testá-lo em 18 crianças e adultos.
"Temos literalmente o potencial de levar as pessoas que são essencialmente cegas e fazê-las enxergar. Acreditamos que isso pode abrir um novo conjunto de medicamentos para alterar seu DNA”, disse Charles Albright, diretor científico da Editas Medicine, empresa de Cambridge, Massachusetts, que desenvolve o tratamento com a Allergan, de Dublin.
O médico Jason Comander mostra a região afetada pela doença (Imagem: Reprodução/Associated Press)
Segundo Jason Comander, cirurgião ocular do Massachusetts Eye and Ear em Boston, outro hospital que planeja inscrever pacientes no estudo, esse acontecimento marca "uma nova era na medicina", usando uma tecnologia que "facilita a edição do DNA de forma muito mais eficaz".
Como ocorreu a operação?
A Síndrome de Leber não pode ser tratada com terapia genética padrão, fornecendo um gene substituto, porque o que é utilizado é grande demais para caber dentro dos vírus desativados usados para transportá-los para as células. Então, os médicos editam ou excluem a mutação, fazendo dois cortes, em ambos os lados. A esperança é que as extremidades do DNA se reconectem e permitam que o tudo funcione como deveria.
A cirurgia durou uma hora, sob anestesia geral. Através de um tubo da largura de um fio de cabelo, os médicos pingaram três gotas de líquido que contém o mecanismo de edição de genes abaixo da retina, o revestimento na parte posterior do olho que contém as células sensíveis à luz. "A edição da célula é permanente e persistirá, esperamos, durante toda a vida do paciente, porque essas células não se dividem”, explicou Eric Pierce, do Massachusetts Eye and Ear, também envolvido no estudo.
Imagem: Reprodução/Associated Press
Os pesquisadores acreditam que precisam consertar de um décimo a um terço das células para restaurar a visão. Em testes em animais, os cientistas foram capazes de corrigir metade das células com esse tratamento, destacou Albright. Um dos maiores riscos em potencial da edição de genes é que o CRISPR pode fazer alterações indesejadas em outros genes, mas, de acordo com Pierce, as empresas têm minimizado essa possibilidade.
Procedimento empolga a comunidade médica
Esse pode ser o primeiro passo para a edição genética dentro do corpo humano e outros estudos também vêm aplicando procedimentos semelhantes. A empresa Sangamo Therapeutics, vem testando a edição de genes de dedos de zinco (estruturas proteicas que se ligam ao DNA) para tratar doenças metabólicas. Cientistas também vêm usando o CRISPR para editar células fora do corpo em tratamentos de câncer, células falciformes e algumas outras doenças.
Todos esses projetos foram realizados abertamente, com a aprovação de órgãos reguladores, ao contrário do trabalho da ações polêmicas de um cientista chinês, em 2018. Na ocasião, ele usou o CRISPR para editar embriões no momento da concepção, tentando torná-los resistentes à infecção por o vírus da AIDS. Alterações no DNA dos embriões podem passar para as gerações futuras, diferente do que vem ocorrendo atualmente nessas operações em pacientes adultos.
Cientista chinês que modificou bebês geneticamente está desaparecido
Fonte: Associated Press