Abandonados, imóveis em área nobre viram abrigo de marginais
Entulho, lixo doméstico, matagal, vidros quebrados, papeis queimados, roupas velhas espalhadas pelo chão. Essa é a primeira vista de quem passa na frente do antigo prédio do bar Armazém Santa Fé, localizado na Avenida Miguel Sutil, no Bairro Duque de Caxias, em Cuiabá.
Em 2008, foi inaugurado o glorioso bar que fez sucesso na noite cuiabana. Com um espaço grande na frente, o local oferecia uma noite com música ao vivo, petiscos e bebidas com um atendimento memorável, segundo os antigos frequentadores.
No entanto, o Armazém fechou as portas quando as obras de mobilidade para a Copa do Mundo na avenida iniciaram, em 2011. Nesta época, os imóveis da região foram desapropriados pelo Governo.
Nesta semana, a reportagem esteve no local e constatou a negligência e descaso com o imóvel.
Em seu interior, o caos é ainda mais grotesco. Pedaços de gesso do forro se espalham por todo o térreo e o andar superior. Mas o que mais chama a atenção são as pichações obscenas, com teor sexual.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Antiga sede da SimTV teve quase todo o telhado furtado
Outro problema é o forte odor de fezes, que se alastra pela calçada. Além disso, o prédio também é ocupado por moradores de rua durante a noite.
“Eles [moradores de rua] usam para dormir, não incomodam. Deve ter usuário de drogas também. Essas depredações todas foram eles que fizeram”, afirmou Leonardo Oberleitner, que mora na região desde os anos 70.
Aos 65 anos, Leonardo revela que ajudou a construir o bar. Ele conta que foi o responsável por fazer toda a fachada e os detalhes em madeira. Hoje, ele lamenta ver sua obra abandonada.
“Eu fiquei decepcionado. Eu só fico sentido de ficar abandonado aqui. Bem no Centro da cidade ainda”, disse.
Na sacada do antigo bar, há uma faixa de “vende-se” com dois números de telefone. A reportagem tentou ligar, mas os números estavam desativados.
Roubo de telhas
A poucos metros do antigo Armazém, do outro lado da avenida, existe outro grande prédio abandonado. Em seus tempos de prestígio, o local foi um supermercado e depois passou a ser sede da SimTV, antiga televisão a cabo.
O imóvel também foi desapropriado pelo Governo durante as obras da Copa do Mundo, em 2011. Moradores do local, que não quiseram se identificar, denunciaram o roubo de telhas do prédio. Conforme as testemunhas, há cerca de um mês, um homem passou a retirar as telhas de amianto.
O suspeito chega ao local com uma picape, sobe no telhado e leva cerca de três peças por vez. Ele estaria praticando o crime durante o dia.
A Polícia Militar chegou a ser acionada em uma das vezes que o suspeito estaria furtando as telhas. O homem chegou a ser preso, mas foi solto no dia seguinte, conforme o advogado José Luiz Bugikian.
As vidraças de cerca de 3 mestros também foram furtadas. As que não conseguiram ser retiradas, foram quebradas no local.
No imóvel, é preciso andar com cuidado, pois o piso está tomado por cacos de gesso e vidro. Além do matagal, que está tomando conta da parte da frente do prédio.
Joilda Mansur Bumlai, que mora ao lado do prédio há 44 anos, apontou o uso de entorpecentes no local. De acordo com Joilda, o cheiro da droga chega até a sua casa.
“Aqui todo dia fica com cheiro ruim. As drogas que eles fumam, vem o cheiro tudo para a minha casa”, disse.
De acordo com a moradora, o local passa por um processo de litígio. Segundo o advogado José Luiz, a SimTV não teria pago o aluguel e o imóvel ainda está sob responsabilidade da empresa.
Bugikian alegou que a família não pode tomar nenhuma atitude para preservar o prédio ou até mesmo fechar as entradas do local enquanto a situação não é resolvida na Justiça.
“Tem uma decisão judicial que determinou que a TV precisa reformar o imóvel e pagar o que deve. Enquanto não fizer isso, os proprietários não podem fazer nada”, afirmou.
A reportagem tentou contato com a defesa da SimTV, no entanto não foi atendida.