Foi o tempo em que ficar na política era favorável, afirma Maggi
ELIANE OLIVEIRA E GUILHERME EVELIN - ÉPOCA
Ministro da Agricutura e Rei da Soja, conta como a política prejudicou seus negócios
Afora um núcleo de assessores mais próximos no Palácio do Planalto, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é um dos poucos titulares da Esplanada dos Ministérios que começou e deverá completar os dois anos e sete meses do governo Michel Temer no mesmo lugar.
Este ano, Maggi, depois de ser duas vezes governador por Mato Grosso e uma das maiores fortunas do agronegócio e que ficou conhecido como Rei da Soja, anunciou que não disputaria as eleições e ficaria no governo. À frente de uma maioresempresas do agronegócio e conhecido como Rei da Soja, Maggi resolveu eu também não fazer doações para políticos na campanha.
A decisão está relacionada com as investigações da Lava Jato que o tiveram como alvo e, segundo Maggi, trouxeram prejuízos para seus negócios. Ele foi investigado, após delação do grupo Odebrecht, de que teria recebido vantagens indevidas na campanha eleitoral de 2006 após acelerar a liberação de créditos tributários da empresa. Há uma semana, o ministro Edson Facchin, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República, arquivou o inquérito contra Maggi por falta de elementos comprobatórios. Depois dessa decisão, ele conversou com Época.
Epoca - Por que o senhor resolveu ficar no governo Michel Temer e não disputar as eleições deste ano, após ser governador, senador e ministro?
Blairo Maggi - Quando disputei a eleição para governador de Mato Grosso, em 2002, não tinha intenção de ficar muito tempo na política. Queria cumprir um mandato e mostrar que era possível fazer uma administração mais profissional, buscando mais resultados. Na primeira eleição, achava que não iria ganhar. Comecei a campanha com 3% e meu adversário tinha 63%. Ao ganhar, pensei: "vou fazer quatro anos e voltar pra casa". Tentei voltar para casa. Mas acabei disputando a reeleição. Em 2010, eu também não queriaconcorrer ao Senado. Até anunciei que não iria participar das eleições. Mas por compromissos políticos acabei disputando o Senado. Desde então, passei a dizer que não iria concorrer à reeleiçã. Quem me acompanha de perto sabe disso. Neste ano, eu vi que precisava tomar uma atitude urgente e definitiva. Reuni a imprensa em Cuiabá e comuniquei em fevereiro que eu não iria disputar. Que cada um fizesse seu projeto e não ficasse esperando por mim. O ambiente político está muito conturbado, com muitas denúncias. eu fui vítima disso e isso afeta muito pessoalmente, a empresa, amigos e familiares. Eu não teria coragem de disputar uma eleição sob investigação. Não é meu perfil esse tipo de coisa.Agora, consigo sair com bastante tranquilidade e previsibilidade...
A decisão de abandonar a política é definitiva?
Blairo Maggi -Também não disse que nunca mais vou disputar. Em política, quando você fala uma coisa e tem credibilidade, as pessoas esperam que você cumpra o que disse. No meu caso, se eu falar que nunca mais volto, se um dia quiser voltar, vou ter que explicar por que eu disse que nunca mais voltaria. Mas eu não pretendo voltar.
Época - O que contribuiu mais para a sua decisão: as investigações de que o senhor foi alvo ou o desejo se concentrar nos negócios?
Blairo Maggi - Já se foi o tempo em que ficar na política era favorável às suas atividades privadas. Hoje em dia não é mais assim. É um ônus muito grande você ter vida pública e ser acionista de uma grande companhia, como é o caso da minha empresa. Como a política está muito depreciada, acaba afetando seus negócios. Resoluções, por exemplo, do Banco Central, relativas a programas de compliance, impedem você de ter negócios com outras empresas. Dou um exemplo banal: mudei da região em que eu morava em Cuiabá. Um dia pedi para minha esposa passar em um supermercado grande, próximo de casa, para fazer um cartão de compra. Ela foi ao supermercado e apresentou. Pediram a ela um comprovante de renda. Mandei pelo whatsapp meu comprovante de renda do Senado, pois eu recebo por lá. Quando os dados chegaram lá e depois de uma longa espera, o funcionário disse, a contragosto, que não poderia dar o cartão. "Seu marido é PPE (pessoa politicamente exposta)", disse ele.
A rede de supermercado não quer ter relações com alguém que seja PPE (pessoa politicamente exposta é aquela que desempenha ou desempenhou nos últimos cinco anos cargos ou funções públicas relevantes. Como parte da estratégia de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro, suas operações financeiras, por determinação do Banco Central, são acompanhadas com maior atenção pelas instituições financeiras ). Depois disso, comecei a dar uma investigada e vi que muitos amigos, muitas pessoas passam pelo mesmo problema. Obviamente, fiz outro cartão de crédito. É incrível. Se a política atrapalhou uma questão de cartão de crédito, como seria com os negócios da companhia?
Época - Como será avaliado o governo Michel Temer a partir de 1 de janeiro de 2019?
Blairo Maggi - Não tenho dúvida alguma que o governo do presidente Temer é impopular. Somos um governo impopular pela maneira como chegamos ao governo. Não recebemos nenhum voto. Ninguém votou na gente. Mas não foi um golpe, pois fizemos o que a Constituição permite. O Brasil teria pago um preço muito elevado se não houvesse o impeachment e sei que o governo do presidente será muito bem avaliado pelos no final.
Época - Como recebeu a decisão do ministro Edson Fachin?
Blairo Maggi - Com grande alívio. Fiquei muito mal. Nunca tive contato com essa turma. Ficar na lista do Facchin, ser rotulado como investigado pela Lava Jato, foi muito ruim. Foi uma das coisas que mais me atrapalharam na questão empresarial também. Você tem que ficar dando explicação de algo que não fez e é a maior operação da história policial do Brasil. Veio o arquivamento pedido pela própria Procuradoria, porque não tem elementos, não tem como fazer uma acusação daquelas. A questão é que te acusaram, te criaram um mal terrível, um prejuízo gigante moral, financeiro. De repente, dizem que não há nada e fica tudo como está. Esse é um problema para quem está na vida pública.
Época - O senhor vai votar em Jair Bolsonaro para presidente?
Blairo Maggi - Sim. Vou votar nele e torcer muito para que tudo dê certo. O slogan da campanha "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" é muito importante.