Lideranças comandam criminalidade de dentro da cela e disputam domínio em MT
Delegado, que atua na repressão ao tráfico de drogas, explica que o CV disputa área com outras facções, mas domina maior parte do Estado de Mato Grosso
Titular da Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado Vitor Hugo Bruzolato afirma que o crescente número de membros da facção Comando Vermelho se dá pela utilização de várias estruturas para a prática delituosa e integrar novos integrantes. O sistema prisional é um dos meios mais utilizados. "Eles se aproveitam da fragilidade das pessoas (que entram no sistema) para conseguir mais membros e recursos”.
O titular da DRE afirma que o trabalho é de combate e repressão a toda facção que esteja agindo no Estado e destaca que as organizações disputam áreas de atuação, principalmente para o tráfico de drogas. “Tudo isso é levado em consideração durante os inquéritos policiais. Se descobrirmos que na região existe uma disputa, chegando ao ponto de ocorrerem homicídios, isso é investigado e compartilhado com a especializada que investiga mortes. Fazemos estas trocas de informações para monitorarmos essas facções”, pontua.
Segundo ele, ingressar para facção é o mesmo que escolher o caminho da morte. "Infelizmente, ou ele vai entrar em confronto com a polícia ou com outra facção”.
Veja vídeo
Para o superintendente da Polícia Federal, Sérgio Mori, que não faz diferenciação entre nenhuma facção, esse tipo de organização deve ser sempre combatida. Para ele, se envolvem nisso pessoas que visam o lucro e o poder. Então, obviamente, são pessoas que têm uma vida criminosa pregressa e acabam conseguindo arregimentar um bom número de seguidores, incluindo um público criminoso de menor potencial.
Frisa ainda que, assim como os criminosos, as polícias têm se esforçado em manter um contato constante. "Hoje, nós temos uma força-tarefa, composta com apoio da Sesp, e temos policiais civis e militares junto com policiais federais nesse trabalho", explica.
“É certo que Mato Grosso não ia ficar muito tempo alheio a isso. Só que aqui, para a nossa sorte, as polícias se prepararam para essa situação. Foi sentido que essa onda de organização do crime, notadamente pelo tráfico de drogas, estava acontecendo e chegando ao Estado. Mas estamos sempre atentos, para não acharmos que essas facções não têm potencial de crescimento. Evidentemente as investigações não são fáceis. Sabemos que o sistema prisional, com os avanços tecnológicos, existe comunicação, mas as polícias também se comunicam. Cabe a nós corrermos atrás para combater isso”, destaca.
Superintendente da PF em MT, Sérgio Mori, que não faz diferenciação entre facções e diz que todas elas devem ser sempre, exemplarmente, combatida
Punições
Em 30 de junho de 2020, o juiz Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, da 7ª Vara Criminal, condenou 25 membros do Comando Vermelho que foram alvos da primeira fase da Operação Grená, iniciada em 2013. Na sentença, Sandro da Silva Rabelo, o Sandro Louco, identificado ainda como “Bile”, foi condenado a oito anos e seis meses de prisão, em regime fechado.
A mesma pena foi aplicada a Miro Arcângelo Gonçalves de Jesus, identificado como “Miro Louco” ou “Gentil”, outro membro do Conselho Final da facção e responsável por “movimentações financeiras rápidas”, de acordo com o Ministério Público.
Os demais condenados na ocasião eram integrantes do conselho, além de responsáveis por funções financeiras, de arrecadação, e ainda membros que ocupavam as funções de “Jet” e “Disciplina”.