Cientista quer usar 'vidro' para frear derretimento do gelo do ártico
Não se trata, necessariamente, de vidro em si, mas de dióxido de silício modificado, presente na areia em sua forma original. A abordagem, promovida pelo Arctic Ice Project, segundo a pesquisadora, criaria uma proteção extra sobre o gelo, refletindo raios solares com mais intensidade e dando a ele mais tempo para que se recupere em seu ciclo. Para auxiliá-la, um fabricante transformou a matéria-prima em bolinhas minúsculas e brilhantes, com cerca de 65 micrômetros de diâmetro, mais finas que o cabelo humano e grandes demais para serem inaladas e causarem problemas pulmonares, além de ocas por dentro.
Substância geraria proteção adicional ao gelo e frearia seu derretimento.
Visando entender os benefícios do método, Leslie e sua equipe o colocaram em prática nas últimas décadas em vários lagos e lagoas no Canadá e nos Estados Unidos. Segundo eles, os resultados foram encorajadores, tornando o gelo jovem 20% mais reflexivo – o suficiente para atrasar o derretimento do material em determinados locais e para mantê-lo mesmo quando outras partes não “protegidas” desapareceram durante a primavera.
Entretanto, a comunidade científica geral não está tão confiante de que a ação possa realmente funcionar sem consequências indesejadas.
Mais perguntas que respostas
Um dos principais questionamentos quanto à novidade levantados por especialistas diz respeito à durabilidade do componente, cuja presença por tempo indeterminado no ambiente, defendem, pode “entupir o oceano e bagunçar o ecossistema.” É o que afirma Cecilia Bitz, cientista atmosférica da Universidade de Washington que se especializou em gelo marinho Ártico.
Além disso, dependendo da potência de reflexão das esferas, a capacidade de fotossíntese de plânctons e algas, por exemplo, seria duramente afetada, gerando um efeito cascata e prejudicando todas as criaturas envolvidas na cadeia alimentar em questão, aponta Karina Giesbrecht, química oceânica e ecologista da Universidade de Victoria, Canadá.
Por fim, o tamanho das pecinhas de dióxido de silício é semelhante ao de diatomáceas, microrganismos consumidos pelos já citados plânctons, ressalta Giesbrecht. Se fossem ingeridas, não garantiriam nutrição alguma e os fariam morrer de fome, dando continuidade aos colapsos ambientais.
Iniciativa poderia prejudicar todo o ecossistema.
Perguntas relacionadas a quem financiaria a proposta, que custaria, a princípio, de R$ 5 bilhões a R$ 27 bilhões anuais, também foram realizadas e não respondidas. Ainda assim, Leslie não desanima e está disposta a continuar analisando as implicações de seu projeto ousado.
Fonte: Megacurioso