Um russo ateou fogo em um vilarejo abandonado para fotografar o incêndio
As imagens que você vai ver a seguir não foram criadas por nenhum maluco com sérias tendências piromaníacas. Na verdade, elas são de autoria de um fotógrafo russo chamado Danila Tkechenko e, apesar de o ato ser bem perigoso — portanto, não tente repetir a proeza! —, a intenção do cara foi a de fazer arte (literalmente, neste caso!) e também protestar contra a negligência do governo de seu país com relação à história e herança cultural de uma série de locais abandonados.
De acordo com Wilk Vatroslawski, do site Slavorum, Danila está trabalhando em um projeto chamado “Motherland” — “Pátria” em tradução livre — e decidiu botar fogo em antigos vilarejos rurais abandonados para fotografar os incêndios. Segundo Wilk, o primeiro deles já foi incinerado e, até onde se sabe, parece que o povoado costumava ser bem pitoresco e bonito há cerca de um século. E o papo de incinerar coisas para fazer protesto?
Industrialização forçada
Conforme explicou o fotógrafo, o vilarejo que ele incendiou é apenas um entre milhares de lugarejos russos que caíram completamente no esquecimento com a coletivização forçadaque ocorreu na União Soviética.
(Danila Tkechenko)
Esse processo consistiu na expropriação forçada de propriedades particulares — a grande maioria agrícola — decretada por Stalin entre os anos de 1928 e 1937, e tinha como objetivo erradicar a estrutura social que existia na época em favor da industrialização do país e transformar esses locais em cooperativas ou unidades estatais produtivas.
(Danila Tkechenko)
Mais de dois milhões de russos que viviam nas regiões rurais acabaram sendo enviados a campos de trabalho de forçado, e estima-se que entre 7 e 8 milhões de pessoas tenham morrido de fome ou devido à perseguição política decorrente da coletivização. Então, cerca de 20 anos depois, a Academia de Construção e Arquitetura da União Soviética implementou outra expropriação forçada.
(Danila Tkechenko)
Essa segunda “fase”, segundo Danila, acabou por selar o destino da cultura rural russa e, como o governo aparentemente não tem interesse em desenvolver a agricultura na Rússia nem restaurar os antigos vilarejos, esses locais, juntamente com parte da herança histórica do país, estão gradualmente morrendo. De acordo com o fotógrafo, desde 1917, a população rural da Rússia sofreu um declínio superior a 80%, e hoje 76% dos russos vivem em centros urbanos.
Então, para provar seu ponto (que, no fundo, é nobre), o que Danila fez? Foi lá e ateou fogo em um desses lugarejos. Afinal, já que eles estão desaparecendo mesmo, por que não acelerar o processo, não é mesmo? A ideia dele era a de chamar a atenção sobre a negligência do governo e o abandono das comunidades rurais — e conseguiu, pois agora ele provavelmente será processado. E você, caro leitor, o que opina?