Bolsonaro ignora segurança da informação ao usar WhatsApp em celular Samsung
Desde 2013, com os vazamentos provocados por Edward Snowden, não há como discutir um fato: vivemos na era da ciberespionagem. Crackers, muitas vezes ligados a órgãos governamentais, estão sempre buscando formas de obter acesso a informações privilegiadas para obter vantagens políticas ou financeiras.
Por este motivo, imagens da última terça-feira (5) se mostraram preocupantes. Em meio a uma disputa com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, o presidente Jair Bolsonaro expôs seu celular para a imprensa, revelando algumas faltas de cuidado com a segurança da informação governamental.
Pelas imagens, não é difícil descobrir que Bolsonaro está usando um Galaxy Note 9 para se comunicar com seus ministros. Os ícones de navegação confirmam que se trata de um aparelho da Samsung, e a entrada da S-Pen, a stylus dos aparelhos da Samsung, na parte inferior do celular, também confirma a marca do smartphone. Além disso, o fato de o aparelho contar com uma borda na parte superior para abrigar a câmera frontal em vez de ter um furo na tela para isso também confirma que o modelo em questão é o Note 9.
Pela interface do sistema, também é fácil perceber que não se trata de um celular que teve uma ROM personalizada, desenvolvida especificamente para limitar recursos e riscos de segurança. O software é idêntico ao de qualquer smartphone Samsung que você encontra no mercado, o que significa que conta com os mesmos riscos de segurança que um celular comum. Também significa que atualizações do sistema operacional estão diretamente na mão da empresa, o que pode gerar atrasos na distribuição de correções de segurança gerando vulnerabilidades que permanecem abertas por um tempo muito maior do que o ideal.
O uso do WhatsApp para discussão de temas sensíveis também traz algumas preocupações. O aplicativo promete criptografia de ponta-a-ponta, o que é, em teoria, muito bom, mas o fato de o app ter o seu código fechado impede a averiguação da real segurança do sistema. Ao utilizar o WhatsApp para discutir temas de governo, a única garantia de que as conversas não são interceptadas é a promessa da empresa de que isso não vai acontecer.
O ideal seria a utilização de um aplicativo criptografado desenvolvido internamente, com supervisão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Caso isso não fosse possível, a segunda melhor opção seria recorrer a um app de código aberto, que pudesse ser cuidadosamente estudado para garantir a segurança da informação que por ele circula. Da mesma forma, o celular ideal para tratar temas tão delicados deveria obrigatoriamente ser personalizado para minimizar riscos de segurança.
Como se faz?
Quando ocupava a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama deu o exemplo de como deve ser o celular de um líder político global. Por muitos anos, enquanto ocupou o cargo, ele não pode usar um smartphone, por orientação do Serviço Secreto do país.
Quando ele finalmente teve a liberdade para começar a usar um smartphone no lugar do seu antigo BlackBerry, em 2016, por questões de segurança, o dispositivo foi tão alterado que era difícil chamá-lo de “smart”, como ele contou em entrevista ao comediante Jimmy Fallon.
“Quando eu recebi, me disseram: ‘senhor presidente, por questões de segurança, este celular é ótimo, um dos melhores do mercado, mas ele não tira fotos, você não pode enviar mensagens, o telefone não funciona, você não pode tocar música’”, disse Obama na época, comparando também o celular presidencial a um telefone de brinquedo para crianças.
Fonte: olhardigital