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Organização cooptou policial e instalou em sua farda câmera espiã

CAMERAPara tentar atrapalhar as investigações sobre o esquema de interceptações telefônicas ilegais praticadas por membros do alto escalão do governo e da Polícia Militar na atual gestão, a organização criminosa cooptou o tenente-coronel l José Henrique Costa Soares e instalou na farda dele uma microcâmera espiã para que ele pudesse gravar o desembargador do Tribunal de Justiça Orlando Perri e dele extrair qualquer frase que pudesse ser utilizada pelo grupo criminoso para pedir sua suspeição na condução do inquérito que apura a chamada “arapongagem”.

A trama, que judicialmente se caracteriza como obstrução à justiça, foi desvendada pelo próprio militar, que contou tudo à delegada Ana Cristina Feldner, que conduz as investigações e, diante da denúncia, representou pelas oito prisões que foram cumpridas na manhã desta quarta-feira (27), na operação Esdras. Soares entregou até mesmo sua farda com a câmera, que foi instalada pelo sargento da PM Ricardo Soler, a pedido do coronel PM e ex-secretário chefe da Casa Militar Evandro Lesco, ambos presos.

Coação a militar

Para conseguir a adesão do tenente-coronel Soares, que atuava como escrivão do inquérito policial militar (IPM) relacionado às interceptações ilegais, a organização criminosa teria se valido de informações pessoais dele, repassadas supostamente pelo ex-secretário chefe da Casa Civil Paulo Taques, que foi advogado de Soares em uma ocasião e acabou descobrindo irregularidades em uma empresa da qual ele é sócio e também que o militar é dependente químico.

Tais fragilidades na vida pessoal de Soares teriam sido utilizadas para coagi-lo a se comportar conforme o interesse dos acusados de executar os grampos ilegais na atual gestão de governo.

“Conhecendo-os, fácil foi subjugar o Ten.-Cel. Soares, um homem cuja situação de dependência química – que busca superar – o fragilizava e o colocava de joelhos. Sabiam eles do seu estado emocional delicado, franzino nas circunstâncias de quem lutava para se reerguer. A própria abstinência de drogas já o debilitava emocionalmente. Conhecendo seu calcanhar de Aquiles, tornou-se presa fácil do grupo, tanto que acreditou na provável invencionice de a Secretaria de Segurança Pública ter ‘posse de interceptações e vídeos que revelavam sua dependência química’”, revelou o desembargador Orlando Perri em seu decreto que autorizou a operação, assinado na terça-feira (26).

‘Plano diabólico’

O magistrado classificou a estratégia da organização criminosa como um “plano diabólico” ao qual Soares condescendeu apenas pelo fato de ter sido “totalmente dominado e constrangido”.

De acordo com o depoimento prestado pelo tenente-coronel à delegada, ele foi inicialmente abordado pela personal trainer Helen Christy Lesco, esposa do coronel Evandro Lesco, quando este ainda estava preso na primeira vez. Ela teria dito ao policial que sabia dos problemas dele com as drogas e pedido que ele avisasse sobre tudo o que acontecesse no curso do inquérito policial militar e também que monitorasse os passos do desembargador Orlando Perri.

Passados alguns dias do encontro com Helen, que também foi presa nesta quarta-feira (27), Soares foi chamado pelo coronel Jorge Catarino ribeiro, responsável pelo IPM, para ir a uma reunião com o desembargador Perri e a delegada Ana Cristina. A conversa com o magistrado foi totalmente gravada em áudio com o celular do escrivão.

Foram cerca de 2 horas de gravação, que foram posteriormente entregues por Soares a Helen Christy, em um segundo encontro que tiveram. Tais encontros ocorriam sempre no mesmo local: no posto de combustível Bom Clima, próximo ao Centro Político Administrativo, onde Soares entrava no carro de Helen e era levado até a casa dela.

Nessa ocasião, o coronel Lesco ainda estava preso e, na casa dela, estava também o advogado Marciano Xavier das Neves, que recebeu via bluetooth todo o conteúdo da gravação em áudio feita por Soares na reunião com Perri.

No áudio, o desembargador dizia que estava pensando em mandar soltar o coronel Lesco, o que agradou a esposa deste, que agradeceu o tenente-coronel e o orientou a continuar repassando as informações sobre a investigação. “Extrai-se deste trecho a direta e incisiva participação tanto de HELEN CHRISTY [esposa do Cel. PM Lesco], quanto do advogado MARCIANO XAVIER NEVES, no grupo criminoso”, comentou Perri em sua decisão.

Farda espiã

Não contentes com o áudio gravado por Soares, os investigados ainda ordenaram que ele fizesse o monitoramento em vídeo do desembargador Orlando Perri, o que foi solicitado a ele pelo próprio Evandro Lesco depois que foi solto, em um encontro na casa dele. O objetivo seria usar qualquer frase e imagem do magistrado para pedir na Justiça a sua suspeição e afastamento do caso.

“QUE diziam claramente que queria que o depoente gravasse qualquer parte de uma conversa, que pudesse comprometer o DESEMBARGADOR ORLANDO PERRI; QUE dizia que o DESEMBARGADOR ORLANDO PERRI estava atrapalhando o grupo; QUE insistiam que queria desacreditar a pessoa do DESEMBARGADOR ORLANDO PERRI, que queria qualquer tipo de expressão que eventualmente o DESEMBARGADOR ORLANDO PERRI falasse”, diz trecho dos autos.

Após o pedido de Evandro Lesco, surgiu também na trama o sargento Ricardo Soler, que segundo o tenente-coronel Soares, apareceu com um equipamento para instalar em sua farda para captar imagens de Perri.

Em outra ocasião, Soares, atendendo às ordens da organização criminosa, levou duas de suas fardas para que Ricardo Soler instalasse a câmera espiã e lhe devolvesse depois. “QUE depois de umas 48hs o CEL LESCO manda mensagem via WhatsApp da HELEN dizendo que ‘o peixe está pronto’; QUE esse foi o código para avisar que a farda com o equipamento estava pronta; QUE isso ocorreu no dia 12/09”, disse o escrivão.

Soares detalha que se encontrou com Soler o estacionamento da Assembleia Legislativa, no último nível para poder ter visão de tudo, com receio de serem monitorados. “QUE SGTO SOLER chegou num carro UNO, azul, com películas nos vidros; QUE então o depoente entrou no veículo dele, tendo então o SGTO SOLER mostrado como foi feita a instalação do equipamento na farda; QUE justificou que só foi possível instalar em uma das fardas em razão da costura da outra e dos breves serem metálicos; QUE ele ensinou como funciona, entregou também o carregador”, relatou soares.

Apesar de todo o aparato para tentar prejudicar Orlando Perri, não foi possível captar imagens desse pois o tenente-coronel não mais foi chamado para reuniões no Tribunal de Justiça. Ricardo Soler também acabou preso na operação Esdras.

FONTE: GAZETA DIGITAL

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