Após 13 anos, Arcanjo enfrenta júri
Desta vez o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro será julgado pela acusação de ser o mandante do assassinato do empresário Rivelino Jaques Brunini
A história de um crime de grande repercussão emCuiabá deverá ter, enfim, treze anos depois, um desfecho nesta semana, no Fórum da cidade. Ali no Tribunal do Júri, o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro será julgado pela acusação de ser o mandante do assassinato do empresário Rivelino Jaques Brunini, então com 32 anos, e Fauze Rachid Jaude, 39, mortos com diversos tiros no dia 5 de junho de 2002, em plena luz do dia, na Avenida do CPA. O crime ainda deixou ferida uma terceira pessoa, Gisleno Fernandes, hoje com 45.
Eram 15h30 de uma quarta-feira ensolarada e quente, quando Rivelino, Fauze e Gisleno conversavam ao lado do carro do primeiro, um Volkswagen Santana escuro. Neste momento, dois homens em uma moto, pararam ao lado e o garupa atirou diversas vezes.
“Um homem magro”, foi o que disse o único sobrevivente a respeito do atirador. Naquele dia, no calor dos assassinatos, era uma descrição um tanto genérica que pouco poderia ajudar nas investigações. Hoje, olhando para o passado, percebe-se que ela se casa perfeitamente com o porte físico daquele que – mais tarde se descobriria – era o principal matador do crime organizado em Mato Grosso: o cabo Hércules de Araújo Agostinho. E, conforme ele próprio confessaria mais tarde, foi contratado para mais essa empreitada.
Rivelino Brunini morreu na hora. Os tiros o atingiram na região do peito, abdome, nariz, pescoço e cabeça. Fauze Rachid foi levado em estado grave para o Pronto Socorro e morreu horas depois, quando passava por uma cirurgia. As vítimas foram atingidas por tiros disparados de uma escopeta calibre 9mm.
O assassinato foi a principal notícia de todos os jornais cuiabanos no dia seguinte, rivalizando com o noticiário da Copa do Mundo, que acontecia na Coréia e no Japão.
O duplo homicídio e tentativa de homicídio ocorreram num momento em que Cuiabá vivia uma onda de assassinatos a mando do crime organizado, que culminaria quase quatro meses depois com a morte do empresário Sávio Brandão, executado em frente ao prédio onde funcionaria a nova sede do jornal Folha do Estado.
O crime da Avenida do CPA começou a ser desvendado quando a PF descobriu que no dia 6 de junho, portanto um dia depois de seu assassinato, Rivelino Brunini deveria depor na Polícia Federal para falar sobre seu envolvimento na máfia dos caça-níqueis, com a qual ele estava em pé de guerra, depois de ter feito parte do esquema criminoso.
Mas o crime organizado assinaria sua sentença de morte quando executou seu mais ousado plano. A morte de Sávio Brandão acendeu a luz vermelha entre as autoridades. Quando executou Brandão, o cabo Hércules e seu comparsa, o ex-policial Célio Alves de Souza, já vinham sendo monitorados pela Polícia Civil por causa de outros casos de pistolagem.
Dias depois da morte de Sávio Brandão, Hércules e Célio foram presos. Pressionado, Hércules acabou confessando diversos crimes em inquérito, apontando o nome do mandante: João Arcanjo Ribeiro, o homem que até então comandava o crime organizado e a jogatina no Estado.
Entre as confissões, ele apontou o “Comendador” como o homem que encomendou a morte de Rivelino Brunini – os outros dois foram atingidos porque estavam na companhia do alvo.
Em junho de 2012, Hércules foi condenado a 45 anos e seis meses pelo duplo homicídio e tentativa de homicídio. No julgamento, ele negou ter tido contato com Arcanjo e revelou ter sido contratado por João Leite, conhecido cobrador do Comendador.
Arcanjo já cumpre pena pelo assassinato de Sávio Brandão, pelo qual pegou uma pena de 19 anos de cadeia. Caso seja condenado nesta quinta-feira, poderá pegar uma pena semelhante à de Hércules.
Fonte: DIÁRIO DE CUIABÁ