PC revela que ex-amante de ex-secretário foi interceptada pela PF
Fonte: folhamax
A ex-amante do ex-secretário da Casa Civil de Mato Grosso, advogado Paulo Taques, que é primo do ex-governador Pedro Taques (PSDB), Tatiana Sangalli, teve o telefone interceptado quatro vezes pela Polícia Federal. A descoberta foi feita por uma força-tarefa montada pela Polícia para investigar um esquema de escutas clandestinas.
A reportagem entrou em contato com a PF sobre o caso, mas não recebeu retorno. A "Grampolândia pantaneira", como ficou conhecido o esquema, foi operado no âmbito da Polícia Militar do estado, entre 2014 e 2015.
Tatiana já tinha sido grampeada pela PM, em uma lista que constava os nomes de outras pessoas, numa operação conhecida como "barriga de aluguel". No entanto, agora a força-tarefa da Polícia Civil identificou que, além de ser interceptada pela PM, ela também foi alvo de escutas feitas pela PF.
O número de telefone dela aparece na lista de números interceptados com autorização judicial como 'HNI' que seria 'Homem não identificado'. Após a descoberta, a equipe da Polícia Civil pediu à Corregedoria da Polícia Federal no estado informações sobre a finalidade pela qual Tatiana Sangalli foi ouvida pela corporação por quatro vezes, sendo três em 2014 e uma em 2015, por determinação judicial.
A suspeita é de interceptação ilegal de telefones na modalidade barriga de aluguel. O mesmo "modus operandi" da Grampolândia.
O número do celular da Tatiane - o mesmo da lista da Grampolândia - consta em uma lista da PF de possíveis grampeados junto a outros telefones de pessoas identificadas com codinomes diversos, como mostra esse documento do Ministério da Justiça que tivemos acesso. Nessa lista, Tatiane é identificada como (HNI 1).
Em um depoimento prestado à Polícia Civil em 2017, Tatiana disse que o relacionamento com Paulo Taques durou até o início do ano de 2015. Até então, ela disse que chegou a acompanhar o advogado durante campanhas eleitorais.
No depoimento, ela diz que em 2012, durante as eleições da OAB-MT, chegou a ouvir em conversas em que o advogado participava que "gravações clandestinas, aparentemente de telefones", estavam sendo feitas. Paulo Taques chegou a ser preso por suspeita de envolvimento no esquema.
A 'Grampolândia Pantaneira' soma hoje nove inquéritos. Sete deles estão na Polícia Civil sob a responsabilidade das delegadas Ana Cristina Feldner e Janira Laranjeira.
Um inquérito está em curso no Tribunal de Justiça e outro no Ministério Público, por supostamente envolverem um magistrado e um promotor. A descoberta de suposta interceptação ilegal no âmbito da PF de Mato Grosso envolvendo nomes do esquema montado na PM abre mais um 'braço' nessa investigação que já acumula milhares de páginas.
O escândalo dos grampos veio à tona há mil dias, desde que foi denunciado pelo Fantástico em maio de 2017 Até agora, apenas o Inquérito Policial Militar (IPM) levou os cinco militares acusados a julgamento.
O ex-comandante geral da PM, coronel da reserva da Polícia Militar, foi o único condenado a cumprir pena. Ele foi condenado a cumprir oito anos de prisão por participação nos grampos.
Ele confessou o crime e disse que o ex-governador Pedro Taques (PSDB) tinha conhecimento dos grampos. A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT) fez a primeira notícia crime das interceptações após a divulgação da reportagem no Fantástico.
A OAB conseguiu ser reconhecida como parte no processo e sempre cobrou celeridade nas investigações, especialmente quando os processos subiram para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), e ficaram com o ministro Mauro Campbell, por causa de suposto envolvimento do então governador Pedro Taques.