O Brasil fracassou: nossa educação só produz gastos e analfabetos
Por Marco Antonio Araujo, do R7
Quem acompanha a área de educação há mais de cinco meses consegue se lembrar das críticas às “fabriquetas de diplomas” financiadas pelo ProUni - que usou muito dinheiro público para bancar vaga ruim em faculdade particular chinfrim.
Era só observar que cursos detinham a maior fatia da verba para constatar que a área de Humanas (professor, giz e lousa) era a que acolhia os alunos com menores notas no Enem. Sim: filosofia, letras, pedagogia, antropologia, sociologia. Todos sabemos disso.
Muito empresário inescrupuloso enriqueceu assim, abrindo espaço para a invasão bárbara das corporações multinacionais de educação, de olho nessa grana fácil de um mercado em expansão.
Durante o período inicial dessa massificação do acesso ao ensino superior, era tolerável justificar tanto esforço orçamentário em troca do valor simbólico de um diploma para pobres e negros que, num país de analfabetos funcionais, chegavam pela primeira vez à "universidade". Foi um marco histórico, assim como a até hoje festejada ascensão da "nova classe média" - que deu no que deu, pula essa parte.
Já no fim primeiro mandato de Dilma, a fórmula estava esgotada. O governo precisava assumir a missão de qualificar esse acesso, garantindo à sociedade o retorno efetivo de uma juventude apta a enfrentar os desafios tecnológicos e do vertiginoso mundo do trabalho.
Como o MEC, nas últimas três décadas, transformou-se num gigantesco banco de dados (e quase só isso, a bem da verdade), finalmente havia chegado a hora de usar as toneladas de avaliações acumuladas.
Era então possível identificar que cursos, faculdades, universidades e alunos estavam cumprindo suas funções social, científica e cultural. Bastavam profissionais capacitados e o mínimo de interesse público.
Sem "ideologização", provavelmente, qualquer governo que, em 2019, herdasse o esforço empenhado por toda uma geração de profissionais da educação estaria diante de um cenário teimoso e complexo, mas de um país ainda viável.
A administração do ensino brasileiro envolveu praticamente todos os partidos políticos e correntes de pensamento disponíveis desde a redemocratização do país. Basta lembrar o amplo espectro de nomes que passaram pelos governos federais, estaduais e municipais em todos esses anos.
Não seria injusto afirmar que essa geração fracassou. Teve a oportunidade objetiva de implantar um novo modelo e, ao menos, dar início à revolução educacional que outros países lograram no mesmo período, em condições similares.
É razoável constatar a necessidade de realocar as verbas do MEC de forma racional, independentemente da recessão. Assim como admitir que a área de Humanas está inchada e despejando milhares de jovens sem qualificação e empregabilidade.
Isso além da grave crise do ensino médio. E também das demandas ancestrais da educação fundamental. Tantas urgências.
O fato é que tudo de mais nefasto, irresponsável, equivocado e obtuso veio à tona em postagens e declarações apressadas repletas de preconceito e reducionismo. Um desperdício. O estrago está feito.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, ressaltou, nesta terça-feira, 07, que pretende discutir sua agenda para o país "de peito aberto" com o Congresso e que o MEC não "quer impor nada a ninguém". Para ele, o modelo educacional aplicado no país deu errado e é necessário debater alternativas.
É necessário concordar com ele nesse ponto. Nem que seja pelo avesso.