Em MT, 75% das famílias não autorizam doação de órgãos
Com 39 potenciais doadores de órgãos no primeiro semestre deste ano, apenas 5% se tornaram doadores efetivos em Mato Grosso. Em 8 casos chegou-se a realizar a entrevista, mas 6 famílias, ou 75%, não autorizaram o procedimento. Outros 6 casos tiveram contraindicação médica, duas das vítimas sofreram parada cardíaca, 21 tiveram morte encefálica não confirmada e o restante foi por outros motivos. Os dados constam no Registro Brasileiro de Transplantes, elaborado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
O número de doadores efetivos é melhor que o registrado no mesmo período de 2018, quando, apesar de serem notificados 42 potenciais doadores, nenhuma doação foi efetivada. Atualmente, apenas o transplante de córneas é realizado em Mato Grosso. Até 2009, no Estado eram realizados transplantes de rins, procedimento que está suspenso há 10 anos e é considerado um dos fatores para a baixa notificação de doadores.
Comparando os 6 primeiros meses de 2018 e 2019, nota-se que o índice de possíveis doadores aumentou no Brasil, assim como em outras 13 unidades federativas do país. Ceará manteve o número de notificações e Mato Grosso, junto com outros 12 estados, apresentaram redução. No ano passado, Mato Grosso ocupava a 7ª colocação entre os estados com menos possíveis doadores e este ano passou para o 5º lugar.
Os dois doadores efetivos deste ano eram do sexo feminino e ambas as cirurgias foram realizadas em outros estados. Uma das doadoras tinha entre 35 e 49 anos e a outra entre 50 e 64 anos.
Córneas
Nos 6 primeiros meses deste ano, 64 transplantes de córneas foram realizados em Mato Grosso. O número é 32,6% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram feitos 95 procedimentos do tipo. Até o mês de junho deste ano havia 244 pacientes ativos na lista de espera (15 pediátricos) aguardando por córneas no Estado, sendo que 150 (6 crianças) ingressaram neste ano. Dois dos pacientes que aguardavam pelo órgão acabaram morrendo antes de passar pela cirurgia.
Coordenadora da Central Estadual de Transplante da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Fabiana Regina de Souza Molina traz dados mais atualizados com relação a esse tipo de transplante. Já fechamos dados até o mês de agosto, somando no total 78 transplantes de córneas.
Segundo Molina, os procedimentos são realizados em dois estabelecimentos habilitados que têm sede na Capital, sendo o Hospital dos Olhos e a Clínica Visionare. As unidades atendem pacientes de todo o Estado. Nestes locais, 90% dos procedimentos são realizados via Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, os atendimentos são corriqueiros.
Em se tratando de outros tipos de transplantes, a coordenadora explica que o Estado está próximo de iniciar os de rins. Aguarda uma liberação do Ministério da Saúde e, depois, os primeiros pacientes passarem pela preparação clínica para, então, receberem o órgão. O próximo passo seria a habilitação de transplante de fígado. Porém, assim como os demais órgãos, apesar de termos a demanda de pacientes, não temos doadores. Motivo que justifica a não abertura desse tipo de atendimento em Mato Grosso, por enquanto.
Conscientização
Fabiana reforça a importância da conversa entre uma pessoa que deseja doar seus órgãos e sua família. Ela explica que o esclarecimento é necessário pois, mesmo que o possível doador deixe por escrito a sua vontade, a família ainda será consultada e os órgãos só serão doados mediante a autorização. Postar em redes sociais sobre a vontade de doar seus órgãos pode ajudar a família a decidir sobre o procedimento, caso ainda reste alguma dúvida. Mas, ainda assim não tem valor documental. Sem a autorização da família expressamente documentada não há doação.
Para conscientizar a população e os profissionais da saúde sobre a importância da doação de órgão foi criada a campanha Setembro Verde, que visa esclarecer as dúvidas referentes ao procedimento e também expor a importância do ato de doar.
Molina destaca que entre os fatores que limitam a doação de órgãos estão a subnotificação dos casos suspeitos de morte encefálica e a baixa taxa de autorização da família do doador. Dados estaduais apontam que, em 2018, um total de 21 entrevistas familiares foram realizadas e 95% delas foram negativas para a doação da córnea.
Em muitos desses casos, a pessoa poderia ter sido um potencial doador, mas a falta de conscientização sobre o assunto e, às vezes, até mesmo de conhecimento, fez com que as famílias recusassem.
Outra situação pontuada por Fabiana é a demora na notificação da suspeita da morte encefálica por parte dos hospitais que, de acordo com ela, acarreta na impossibilidade de concluir o diagnóstico ou inviabiliza os órgãos para doação, uma vez que desde a suspeita da morte encefálica até a realização da retirada dos órgãos, o potencial doador deve ser rigorosamente assistido pela equipe da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), a fim de garantir a qualidade dos órgãos para o transplante.
Salvando vidas
Embora Mato Grosso realize apenas transplante de córneas, os potenciais doadores de órgãos do Estado podem salvar vidas de pessoas de outras localidades do país. No caso de paciente com morte encefálica confirmada e com autorização da família para que ocorra a retirada dos órgãos, o hospital entra em contato com a Central Estadual de Transplantes que, por sua vez, começa a avaliação e validação do doador. É feita a realização de testes de compatibilidade entre o potencial doador e os potenciais receptores da lista nacional de espera, além de comunicar os hospitais em que eles são atendidos, detalha Fabiana.
As equipes de transplantes, juntamente com a Central, adotam as medidas necessárias para viabilizar a retirada dos órgãos (meio de transporte, cirurgiões e pessoal de apoio). Estes são retirados e o transplante é realizado pelos profissionais dos hospitais dos respectivos estados dos receptores.
Gazeta Digital