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Dia das Mulheres: elas estão mudando os negócios


Canaltech

Desigualdade salarial, baixo investimento, assédio sexual. Essas são apenas algumas das barreiras que mulheres encontram em suas jornadas profissionais - dentro e fora do mundo da tecnologia. Mas, ainda que as injustiças ocorram, notícias recentes dão razões para acreditar que lugar de mulher é aonde ela quiser, seja empreendendo, comandando uma grande corporação ou desenvolvendo novas ideias. São dezenas de dados que confirmam: mulheres fazem a diferença nos negócios.

No Brasil, 24 milhões de mulheres empreendem, sendo que 5,6 milhões podem chegar a faturar R$ 3,6 milhões ao ano, segundo dados da Rede Mulher Empreendedora. Ainda que o investimento em empresas fundadas por mulheres seja menor - uma disparidade, em média, de mais de US$ 1 milhão -, elas geram receitas mais altas. De acordo com a pesquisa do BCG, negócios tocados por mulheres ganham mais do que o dobro por dólar investido em relação às companhias criadas por homens. Ou seja, empresas de propriedade feminina são melhores investimentos para os financiadores, mesmo que eles não tenham percebido.

Em uma análise de cinco anos de dados de investimento e receita feita com 350 empresas, ficou clara a lacuna de gênero no que diz respeito ao financiamento. Os investimentos em empresas fundadas ou cofundadas por mulheres foram em média de US$ 935 mil, o que representa menos da metade da média de US$ 2,1 milhões investidos em empresas faundadas por empreendedores do sexo masculino.

Apesar disso, startups fundadas e cofundadas por mulheres na verdade tiveram um desempenho melhor ao longo do tempo, gerando 10% a mais em receita acumulada ao longo de um período de cinco anos: US$ 730 mil em comparação com US$ 662 mil.

Uma pesquisa adicional, realizada pelo SEBRAE, aponta que mulheres representam 52% dos novos negócios abertos no país. Há dez anos, esse número era inferior a 30%. A força do empreendedorismo feminino alcançou até mercados antes liderados pelo público masculino, como é o caso da Tecnologia da Informação. Hoje as mulheres representam aproximadamente 20% do total de trabalhadores do segmento.

Já no lado corporativo, um levantamento realizado pela McKinsey, em 2016, mostra que companhias com pelo menos uma mulher na primeira linha de comando (presidente ou vice-presidente) podem aumentar a margem de lucro em até 47% e gerar 44% a mais de riqueza para o acionista. Um dos principais motivos é o aumento da produtividade, na medida em que você mescla estilos diferentes e ideias complementares, que primam pela diversidade.

Outro estudo desenvolvido pelo instituto americano Peterson Institute, em parceria com a consultoria EY, também em 2016, sinaliza que a presença de mulheres na liderança de uma corporação pode melhorar o desempenho da empresa. Após pesquisar 21.980 empresas em 91 países, o instituto acredita que instituições com pelo menos 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres podem elevar o lucro em até 15%, quando comparadas com aquelas que não têm a presença feminina em posições-chave.

As diferenças entre homens e mulheres também são evidenciadas em várias outras posições profissionais, de acordo com os resultados apresentados pelo estudo “Alfabetismo no Mundo do Trabalho”, com base na metodologia Inaf, divulgado em 2018, pelo Instituto Paulo Montenegro e ONG Ação Educativa, com apoio do IBOPE Inteligência. As mulheres apresentam maior grau de escolaridade, mas ainda enfrentam uma série de desigualdades de oportunidades no ambiente de trabalho.

Os dados confirmam a tendência observada nas edições anteriores do Inaf, que indicam um desempenho das mulheres em termos de alfabetismo ligeiramente superior ao dos homens. Homens e mulheres estão distribuídos no grupo Intermediário na mesma proporção que os encontramos na população (48% homens e 52% mulheres) e as mulheres passam a ser maioria no nível condição Proficiente. Além disso, 72% das mulheres podem ser consideradas Funcionalmente Alfabetizadas, enquanto essa
proporção é ligeiramente inferior entre os homens (69%).


Projetos para encorajar

No mundo da tecnologia mais e mais projetos são criados a cada ano com um único objetivo: inspirar mulheres a seguirem seus sonhos. Iniciativas feministas ao redor do mundo têm contribuído para que muitas mulheres aprendam sobre um determinado assunto sob mentoria e orientação de outras ‘manas’. Nas comunidades, elas se sentem seguras para questionar, estimuladas para inovar e capacitadas para entrar no mercado de trabalho.

O PyLadies é um desses grupos que nasceu para mulheres compartilharem conhecimentos sobre Python, uma linguagem de programação simples, versátil e que pode ser aplicada para diversos fins e em muitas áreas diferentes. “Python é o que chamamos de linguagem alto nível, pois se aproxima mais da linguagem humana. É como uma poesia, você declama o código, lê e entende o que está acontecendo” explica Erika Campos, fundadora do grupo Pyladies de São Paulo.

O grupo oferece cursos de Python do nível mais básico até avançado. Todos são ministrados e monitorados por mulheres, e o melhor: são gratuitos. As alunas de um dia se tornam monitoras em outro e professoras mais para frente. Elas repassam conhecimento voluntariamente para outras mulheres contando apenas com o apoio das administradoras do grupo que desenvolveram a didática.

“Ninguém ganha nada. Temos um pequeno faturamento com a venda de camisetas que é revertido para tinta da impressora, adesivos e demais materiais das aulas. Alguma meninas que se inscrevem nem tem computador, por isso emprestamos equipamentos ou pegamos emprestado de alguém. E os café são trazidos voluntariamente pelas próprias alunas. Trata-se de uma comunidade”, comenta.

Na mesma linha, o CloudGirls é focado em dar autonomia às mulheres neste setor da tecnologia e em outros segmentos de TI. Segundo Ana Paula de Luca Diegues, arquiteta de sistemas sênior do Itaú e coordenadora do grupo, a comunidade (criada dentro da plataforma MeetUp) nasceu pois a frequência das mulheres em eventos de cloud era inferior a 10%.

“Historicamente, quando há ocupação masculina, há um esvaziamento da ocupação feminina. Criamos encontros que são ambientes seguros para as mulheres, onde não existe pergunta errada", disse. "Temos um público bem abrangente, desde mulheres com bastante tempo de carreira no ambiente tradicional e está migrando pra nuvem, até mulheres que já atuam com cloud. Também tem mulheres que estão mudando de carreira e querem aprender mais", finalizou.

Outros grupos como Rails Girls, Woman Who Code, Code Girls, UP[W]IT, MariaLab, Mulheres na Tecnologia, Meninas Digitais, Minas Programam, PrograMaria, WoMakersCode, Rede Mulher Empreendedora, Heard, Itaú Mulher Empreendedora, W55, ELAS_inTech e B2Mamy, também nasceram para reverter a falta de diversidade no mundo da tecnologia e incentivar o protagonismo feminino no mundo dos negócios. Com eles, muitas profissionais conseguiram migrar de profissão ou iniciar uma carreira já na área.

O Facebook também lançou no Brasil há poucos meses, o #ElaFazHistória, um espaço que reúne as mais diversas comunidades (como as citadas acima) para conectar mulheres, além de ferramentas e recursos gratuitos para desenvolvimento de negócios.

Se você conhece algum projeto que encoraja o protagonismo feminino ou tem uma história inspiradora para contar, compartilhe com a gente nos comentários.
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