Cuiabana vai representar o Brasil em torneio mundial de pesca
Mídia News
Em 1997, a cuiabana Carola Curvo, de 38 anos, dividiu uma canoa com o pai pela última vez. Apesar dele ter “ido embora”, como a publicitária se refere ao falecimento, a paixão pela pesca permaneceu. Em junho, Carola será a única representante brasileira no 1º Torneio Internacional de Pesca Esportiva, que acontece em Goiás.
O campeonato, que acontece entre os dias 20 e 27 de junho, contará com 12 participantes de várias nacionalidades, sendo que apenas duas são mulheres.
"Serão 12 pescadores de todo o mundo, mas são apenas duas mulheres. A segunda é japonesa. As mulheres ainda ocupam uma pequena parcela do mundo da pesca", contou.
Carola contou que tem se dedicado ainda mais à pescaria durante a fase de preparação para o torneio, onde os pescadores serão desafiados a pegarem a maior piraíba, espécie de peixe de água doce comum na América do Sul e que pode atingir até 2,5 metros e 300 kg.
Pescar o peixe gigante utilizando uma isca artificial também fará parte dos desafios do campeonato, uma vez que, conforme a publicitária, pegar a espécie com esse tipo de isca é "quase impossível".
Pensam que vou dar trabalho, mas termino pegando mais peixeis que eles [pescadores homens]. Toda vez é a mesma história: dizem que é 'sorte de iniciante'. Digo que tenho a mesma sorte há anos"
A pescadora contou que o estilo de isca não é o mais utilizado por ela durante os dias de pesca, apesar de entender tanto na teoria, como na prática, como a mesma funciona. Esse é o motivo pelo qual decidiu intensificar ainda mais os treinos.
"Estou me dedicando muito, além de disponibilizar mais tempo para pescar, porque esse esporte exige muita dedicação. O campeonato será com isca artificial, algo que não pratico muito. Sei pescar com ela, mas não me dedico muito a esse tipo de isca. O grande desafio está nessa parte", avaliou.
Competição
De acordo com Carola, não existem muitos campeonatos de pesca no Brasil, motivo pelo qual o 1º Torneio Internacional de Pesca Esportiva será o primeiro disputado pela pescadora.
A pesca esportiva foi reconhecida como esporte no Brasil com a certificação da Confederação Brasileira de Pesca Esportiva (CBPE), fundada em 2018.
Carola explicou que o esporte exige muita estratégia por parte do pescador, pois existem muitas especificidades em torno da pesca. É preciso saber o momento certo de lançar a isca, além de entender quais os equipamentos corretos para o tipo de pescaria.
"Existem muitos tipos de iscas, linhas, varas e etc. Precisamos entender qual o tipo de pescaria para saber qual equipamento devemos levar. Além disso, o horário da pesca também influência no desempenho do pescador", disse.
Durante a preparação para representar o Brasil no torneio, a pescadora também pretende ir até o local onde serão realizadas as provas, no Rio Araguaia, localizado no município de Luiz Alves (GO).
Dedicada e experiente, Carola pretende passar o feriado da Semana Santa praticando a pesca no Rio Araguaia.
"Vou para o local onde será realizado o campeonato para conhecer o rio, entender um pouco da estratégia que vou utilizar nessa pescaria, entender os tipos de peixes em cada ponto. Cada peixe pescado terá um ponto. Quero estudar como vou aplicar as estratégias dentro do tempo de prova", explicou.
Machismo no esporte
Como a pescaria ainda é um dos esportes compostos majoritariamente por homens, Carola já vivenciou situações em que pescadores subestimaram a capacidade da publicitária nos rios ou que tentaram ensiná-la a pescar.
Carola pescou piraíba de dois metros no Suriname
"Já aconteceu de ir pescar com meu filho e um homem parar ao lado do barco para falar que eu ia enrolar minha linha na dele. Quatro arremessos depois peguei dois peixes com a mesma linha. Pode parecer 'história de pescador', mas aconteceu", contou.
A pescadora contou que foi um caminho árduo até conquistar reconhecimento como mulher no esporte. Para ela, o convite para participar do torneio foi uma das principais recompensas pela dedicação à pesca.
Carola também citou vezes em que homens acharam que ela, por ser mulher, "daria trabalho" durante a pescaria. Outros, após assistir a perfomance da pescadora, que pratica a pesca há 20 anos, afirmam que é "sorte de iniciante".
"Pensam que vou dar trabalho, mas termino pegando mais peixeis que eles [pescadores homens]. Toda vez é a mesma história: dizem que é 'sorte de iniciante'. Digo que tenho a mesma sorte há anos", brincou a publicitária.
Jornada tripla
Carola se divide entre o escritório, onde trabalha com branding e design de marcas, os rios do Brasil e do mundo, por onde já praticou a pesca esportiva,e a maternidade - ela é mãe de dois adolescentes, de 13 e 15 anos.
Ela contou que o filho mais novo tinha costume de acompanhá-la durante a pescaria, porém o medo de embarcar no avião monomotor, que precisa ser utilizado para acessar alguns rios, impediu o menino de seguir nos passeios com a mãe.
A correria da carreira publicitária faz com que Carola não compartilhe muitos a rotina nas redes sociais dela. Ao contrário do que ocorre nas horas vagas, em que os momentos como pescadora são compartilhados na internet.
"Quero ser referência em design de marcas, mas pescar tomou proporções surpreendentes. Quando estou pescando, são meus momentos de lazer, então acabo postando fotos e compartilhando as pescarias", contou.
O convite para representar o Brasil no campeonato mundial foi compartilhado por Carola para os seguidores dela.
"Feliz demais pelo convite pra ser a mulher que representará o Brasil no 1º Torneio Internacional de Pesca Esportiva. Os japoneses estão desafiando os brasileiros a pescar Piraíba com isca artificial. Ah! Nem to acreditando que fui indicada para competir com a melhor pescadora do Japão!", escreveu na postagem.
Carola começou a se dedicar à pesca com 17 anos
Pesca internacional
De acordo com Carola, cada pescaria possui suas particularidades. Aventureira, a pescadora já pescou em rios dentro e fora do Brasil em busca de mais experiências com o esporte.
Ela explicou que cada local também possui as espécies de peixes que aparecem com mais frequência na isca dos pescadores.
"Toda pescaria é diferente uma da outra. No Rio Juruena, por exemplo, pegamos traírão. Já no Rio Teles Pires, é comum pirarara e jaú. Na Argentina, os pescadores vão em busca do dourado e, no Suriname, a piraíba", contou.
Nas águas do Suriname, onde acampou em uma cachoeira para pescar, Carola pegou uma piraíba de 2 metros. Já no Rio Juruena, a pescadora repetiu o feito pescando um jaú de 1,75 metros e 75 kg.
"Nós vamos a certos lugares em busca desse tipo de peixe. Não estava lá sem fazer nada e ele mordeu minha isca. Já vamos à cada pescaria sabendo o que esperar", disse.