Quadrilha de agiotas aterroriza casal; toma bens e atira em homem em MT
Folha Max
A quadrilha de agiotas que ameaçava e extorquia pessoas no interior de Mato Grosso e que foi denunciada e investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE) na Operação Caporegime arrancou de um casal de Matupá (distante 683 km de Cuiabá) nada menos que um sítio, um barracão comercial, um veículo Chevrolet modelo Cobalt e vários cheques, até o valor estimado em R$ 1,5 milhão.
Como táticas, eram usados constantes terror e ameaças, além de coação e promessas falsas de quitação das “dívidas”. De acordo com os promotores do MPE, no início a organização emprestava dinheiro normalmente, as pessoas iam pagando e achando que iam quitando as dívidas.
Porém, a quadrilha sempre sobrepesava os juros, deixando restos a pagar e reaplicando mais juros sobre esse montante. Assim que o devedor perdia a conta ou falava em resolver o total, começavam as cobranças mediante coação e os valores absurdos eram apresentados.
Os integrantes Luis Lima de Sousa, Edson Joaquim Luiz da Silva, Luan Correia da Silva e Purcino Barroso Braga Neto eram mandados por João Claudinei Favato, José Paulino Favato, Kaio Cezar Lopes Favato e Clodomar Massoti a constrangerem diversas vezes o casal H.P.Z. e V.M.R., sempre sob grave ameaça, a entregar seus bens à quadrilha.
As vítimas contaram aos investigadores que começaram a pegar dinheiro com os agiotas ainda em 2013 para tentar resolver dificuldades financeiras que enfrentavam. Pediram então que João Claudinei trocasse cheques de clientes deles por valores em espécie, já que ele era conhecido na região porque fazia sempre esse tipo de transação, ainda que cobrasse para isso juros 4% a 6% ao mês.
Sentindo-se confortáveis, criaram o hábito e passaram a constantemente pegar dinheiro por empréstimo com a quadrilha e a pagar com cheques, até que estes passaram a não mais ser suficientes para quitar as dívidas anotadas, aumentando cada vez mais as obrigações das vítimas em relação a João Claudinei.
Já em 2015, após sucessivos empréstimos, a vítima H. foi até João Claudinei para combinar um jeito de pagar o devido. O investigado aceitou ir se encontrar com H. na companhia de Edson Joaquim Luiz da Silva. João então disse a H. que não queria que “o pessoal de Cuiabá viesse atrás dele [H], porque conhecia bem esse pessoal e eles viriam para tocar o terror, pois esse pessoal pega de filho a parente e de mamando a caducando”.
Foi o início dos pesadelos do casal. No dia seguinte, sem apresentar nenhum esboço da dívida ou de cálculos, João Claudinei disse ao casal que a dívida agora era de R$ 3 milhões e exigiu que os dois deviam transferir para o nome dele duas propriedades do casal: o sítio, avaliado em R$ 1 milhão, e um barracão comercial, avaliado em R$ 400 mil.
“Após a entrega desses bens para João Claudinei ficou acertado que H. pagaria o restante somente após o prazo de dois anos, pois precisaria de tempo para conseguir o restante do valor exigido. Ocorre que, mesmo após combinado o prazo de dois anos para quitar a dívida, os cobradores Luis Lima de Sousa, Edson Joaquim Luiz da Silva, Luan Correia da Silva e Purcino Barroso Braga Neto foram até a empresa de H. e V., ocasião em que Luís Lima, vulgo Paraíba, disse de maneira intimidativa que H. devia a eles o valor de R$ 180 mil”, escreveram os promotores.
O marido quis reagir e disse que não havia dívida. Paraíba foi mais agressivo, bateu na mesa e disse que nenhum homem jamais falou aquilo pra ele e ficou vivo pra contar a história. Perguntado sobre a origem da dívida, Paraíba mostrou para H. cheques que ele havia repassado a João Claudinei. Ouviu a resposta de que H. só pagaria sua dívida com João Claudinei, e não pagaria mais Paraíba sem autorização. Paraíba foi embora.
No dia seguinte, Luis Lima de Sousa, Edson Joaquim Luiz da Silva, Luan Correia Da Silva e Purcino Barroso Braga Neto procuraram novamente H. e o fizeram falar ao telefone com João Claudinei. A vítima ficou então sabendo que os cheques foram repassados ao grupo para serem liquidados e que H. deveria ver o que “poderia fazer” para saldar a dívida.
Ainda atônitos, marido e mulher ficaram sabendo que os quatro homens iriam levar naquela mesma ocasião a caminhonete Ford Ranger do homem e o Chevrolet Cobalt da mulher. Sob súplicas, conseguiram manter a caminhonete, mas deram adeus ao sedan, avaliado em R$ 42 mil, mais diversos cheques e notas promissórias.
“Embora as vítimas tenham entregue bens e valores ao bando, os cobradores Luis Lima de Sousa, Edson Joaquim Luiz da Silva, Luan Correia da Silva e Purcino Barroso Braga Neto continuaram indo constantemente na empresa das vítimas com a finalidade de coagi-los e obrigá-los a entregar-lhes valores e bens. Em uma dessas visitas, o vulgo Paraíba disse a H. que o aconselharia a pegar sua família e sumir da região. Cansados das constantes perseguições e coações feitas pelos cobradores, H. e V. entregaram outros cheques a Paraíba e Luan, e semoventes ao Edson Joaquim, após, o que, entrou em contato novamente com João Claudinei e pediu que este mantivesse o acordo e desse um tempo para que juntassem o restante do dinheiro para quitar a dívida, ocasião em que o Favato concordou e disse que não o incomodaria mais”, consta no pedido de abertura de inquérito do MPE.
O alívio, entretanto, durou menos de oito meses. No dia 21 de julho de 2016, o marido H. foi alvejado por dois tiros, um no peito e outro na cabeça. Ainda socorrendo o marido, minutos depois, V. recebeu recebeu uma ligação de Edson Joaquim Luiz da Silva perguntando aonde estavam os dois e se H. teria morrido. Não conseguiu resposta.
Passados mais alguns minutos e Edson ligou novamente para V. dizendo que queria encontrar o casal. A mulher conseguiu despistar o cobrador agiota dizendo que H. fora transferido para outra cidade. Nada de paz, porém, pois depois de tentarem matar o homem à bala, Luan Correia da Silva e Luis Lima, o Paraíba, passaram a constantemente rondar a casa das vítimas.