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Menina morre em pula-pula inflável

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Fonte: Folha Max

A morte de uma criança de três anos lançada de um pula-pula inflável, em formato de castelo, no Reino Unido, gerou um amplo debate no país sobre a necessidade de regulamentar o uso desse tipo de brinquedo.

Ava-May Littleboy estava se divertindo no pula-pula, em um dia quente de verão na praia de Gorleston, no condado de Norfolk, quando todos foram surpreendidos por um alto barulho: o brinquedo parecia ter estourado.

"Parecia uma explosão", contou Zoe Dye, que estava na praia com a filha de 11 anos. A se virar para ver o que tinha acontecido, ela se deparou com Ava-May sendo arremessada pelos ares.

"Todos começaram a gritar. Parecia uma cena em câmera lenta. A menininha estava no ar e ninguém podia fazer nada. Todos tentaram segurá-la, mas ela acabou caindo."

Ava-May se feriu na cabeça e foi levada ao hospital, mas não resistiu.

Em 2016, um outro caso chocou o país. Uma criança de sete anos morreu quando o pula-pula inflável instalado em um parquinho no condado de Essex, no leste da Inglaterra, voou pelos ares depois de um vento forte. A menina teve múltiplas fraturas e também não resistiu.

Diante dessas tragédias, grupos vêm reivindicando regras mais rígidas para garantir a segurança no uso desse tipo de brinquedo. Um parlamentar britânico chegou a defender que infláveis sejam proibidos temporariamente em áreas públicas, "até que seja possível garantir a segurança deles".

No Brasil, os brinquedos infláveis também são populares. Marcam presença nas festas infantis e costumam ser atração entre as crianças. Mas, se alguns cuidados não forem adotados, a diversão pode se transformar em fraturas e corridas ao hospital.

Em janeiro deste ano, por exemplo, um menino de 10 anos se feriu gravemente quando o brinquedo inflável onde ele estava foi arremessado por uma rajada de vento, na região da Pampulha, em Belo Horizonte.

Não há normas obrigatórias para seguir

No Brasil, existe uma norma técnica de 2010 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre infláveis, mas ela não é obrigatória. Ou seja, os parques e empresas de aluguel desse tipo de equipamento seguem se quiserem.

"O que acontece no Brasil é que normas não são leis. Então, precisamos que o poder público utilize as normas disponíveis. O que falta é o governo de determinado município, que é quem dá o alvará de funcionamento, exigir que a norma da ABNT seja respeitada", defendeu o presidente da Associação das Empresas de Parques de Diversão do Brasil (Adibra), Francisco Donatiello.

A norma da ABNT tenta, por exemplo, evitar o que aconteceu com a britânica de sete anos e o menino brasileiro, ao exigir que os brinquedos infláveis sejam "ancorados por no mínimo quatro estacas e que cada uma deve suportar 1.600 newtons (163 quilos aproximadamente)".

Donatiello cita os principais cuidados, previstos na norma da ABNT, que parques de diversões, empresas de aluguel de equipamentos e pais devem adotar ao utilizar um brinquedo inflável:

- Montar o brinquedo em locais planos e ancorá-lo em quatro estacas

- Utilizar o pula-pula sempre na presença de monitores

- Observar a capacidade máxima de usuários e não ultrapassá-la, sendo que o ideal é que uma criança pule por vez no brinquedo

- Só utilizar o brinquedo se a velocidade máxima do vento prevista para o dia não ultrapassar 36 km/h

- Exigir a retirada de calçados, óculos e objetos afiados que estejam na posse dos usuários

"Também é importante checar se o equipamento tem boa qualidade. Para isso, vale pedir a documentação do equipamento, para saber a procedência, além do manual e o certificado de garantia - os documentos que comprovem a qualidade", recomenda Donatiello.

Saída de ar

Outra preocupação importante é verificar a saída de ar do brinquedo. No caso da morte da menina Ava-May, de três anos, testemunhas relataram que o brinquedo pareceu "explodir" ou "estourar". O acidente ainda está sendo investigado.

Lincoln da Silva, proprietário da Ritmo de Festas, empresa de aluguel de brinquedos de São Paulo, destaca que, se o brinquedo inflável não tiver uma saída adequada de ar, ele pode estourar.

"O pula-pula deve ter explodido por algum fator que impediu a saída de ar. Sem a saída de ar, o brinquedo vai esticar, e vai rasgar ou explodir, se o motor (o compressor que injeta ar no brinquedo inflável) for forte", disse.

"Tem brinquedo em que a saída de ar já fica aberta, e outros que você tem que abrir a saída de ar. A pessoa pode ter inflado o brinquedo e esqueceu de abrir a válvula de escape do ar."

Colisões

Além dos riscos que o manuseio incorreto do brinquedo pode ocasionar, é importante monitorar a brincadeira para evitar quedas e machucados provocados pelo choque entre crianças.

O presidente da Sociedade Brasileira de Obstetrícia Pediátrica, Márcio Akkari, diz que já atendeu dezenas de pacientes com lesões provocadas durante brincadeiras no pula-pula.

"As mais comuns são torções ou fraturas no tornozelo, por pisar de mau jeito, e fraturas do punho, causadas quando as crianças tentam se apoiar ao cair", disse à BBC News Brasil.

"Também já recebi crianças com dedos fraturados, que tiveram a mão pisada por outra criança no pula-pula", afirmou.

Akkari destaca que crianças pequenas ainda não desenvolveram senso de orientação apurado e, por isso, podem pular de mau jeito e cair no chão. "Dependendo do tamanho da criança ela não tem compreensão de que se pular mais torta ela vai cair para fora."

Outro problema é o fato de ossos e cartilagens serem mais frágeis que os de um adulto. "O esqueleto só se torna compatível com um de adulto no final da fase de crescimento. Nas meninas, é com 14 e 15 anos. No caso dos meninos, é com 16. Uma criança de 13 tem um esqueleto mais firme que uma de sete."

Por isso, ele destaca que é importante não deixar crianças grandes, com 10 anos por exemplo, pulando no mesmo brinquedo que crianças de 2 a 5 anos. O choque entre elas pode machucar.

"Pula-pula virou moda e claro que, dependendo da energia e da agitação no brinquedo, pode acabar causando lesões. Um tornozelo quebrado leva três meses de imobilização. Um punho quebrado, leva seis semanas para cicatrizar e começar a reabilitação", afirma Akkari.

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