Após confissão, cabo diz temer pela vida e defesa pede proteção
Após detalhar o esquema de interceptações telefônicas ilegais em Mato Grosso ao juiz Murilo Mesquita, da 11ª Vara Militar do Fórum de Cuiabá, o cabo da PM Gerson Correa disse que teme pela própria vida e de sua família.
Ele depôs durante toda a madrugada de sábado (28), por mais de 5h, e confessou ter interceptado ilegalmente adversários políticos do governador Pedro Taques (PSDB) a mando do ex-comandante da corporação, coronel Zaque Barbosa.
A defesa do cabo Gerson disse que entrará com pedido de proteção ao cabo. “Vai ser pedida a proteção para ele. Dos fatos declarados aqui [no Fórum], a coragem dele tem que ser elencada no pedido que iremos fazer”, disse o advogado Neyman Monteiro.
Mesmo ainda sendo lotado na Polícia Militar, o cabo foi afastado de suas funções e perdeu o direito de andar armado após ser preso sob suspeita de participação no esquema de escutas clandestinas.
Ele foi solto em março, depois de nove meses detido na sede da Ronda Ostensiva Tático Metropolitana (Rotam).
Na ação penal que apura os grampos no Estado, além do cabo, são réus o ex-comadante Zaqueu Barbosa, os coronéis Evandro Lesco, Ronelson Barros e Januário Batista. Os quatro negaram participaram no esquema de interceptação telefônica.
Confissão
Na madrugada de sábado, o cabo detalhou como funcionava o esquema de interceptações telefônicas e acusou o ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques como sendo o líder do “grampos ilegais”.
De acordo Neyman Monteiro, no depoimento o cabo acabou “escrevendo um livro” na história mato-grossense. Ele fala que a orientação da defesa era para que o PM confessasse os crimes que praticou, no entanto Gerson foi além.
“Apenas ele e a mulher dele sabiam. Ele quis mostrar para sociedade e para os julgadores o que foi a grampolândia pantaneira. Ele explicou. Vão julgá-lo e vai ter uma decisão, favorável ou desfavorável”, disse a defesa.
Depoimento
Em seu depoimento, o cabo disse que em 2014 foi chamado pelo coronel Zaqueu Barbosa para criar um escritório para interceptar policiais militares que estariam cometendo crimes.
Segundo sua confissão, esse escritório, que foi montado por Gerson e aperfeiçoado por outros policiais militares, foi financiado pelo ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques.
Os trabalhos na sala de interceptação começaram, conforme Gerson, em setembro de 2014 com interceptações de policiais que estavam em desvio de conduta.
No entanto, na semana que antecedeu a eleição de outubro daquele ano, ele conta ter recebido do coronel Zaqueu mais uma leva de números que correspondiam a “barriga de aluguel”. Estes números seriam de políticos adversários, jornalistas e advogados.