Como é feita uma palavra cruzada?
1) Primeiro, o editor seleciona a temática das palavras-cruzadas. Algumas grades seguem uma linha específica, como futebol ou youtubers famosos. A maioria dos desafios, porém, usa temas mistos – e eles precisam ser bem variados e equilibrados para não deixar as revistas repetitivas. Esses temas podem ser ciência, famosos, política, geografia etc.
2) Na hora de escolher as palavras que irão compor a grade, o trabalho se divide. Jogos mais complexos ficam a cargo de humanos, os cruziverbalistas (ou “construtores”, no jargão do ramo). Os mais fáceis são bolados por programas de computador, como Crossword Compilar e Simpathy, que fazem os cruzamentos por conta própria. No Brasil, a editora Coquetel possui o próprio software.
3) Os cruziverbalistas são colaboradores não fixos das revistas. Eles podem ter as mais diversas formações, de engenheiros a professores. Quanto mais variado o time de colaboradores, mais visões de mundo e perspectivas diferentes a revista terá. O modo como eles criam o passatempo depende do estilo pessoal: há quem use planilhas de Excel e outros que fazem tudo no lápis!
4) Mesmo os cruziverbalistas contam com uma ajudinha da tecnologia. Eles passam a carreira inteira alimentando um banco de palavras que serve como base na hora de montar um desafio. Leu o jornal e encontrou uma expressão interessante? Joga no banco de dados. Ouviu o nome de uma celebridade nova? Joga no banco de dados. Ele é o tesouro profissional de um cruziverbalista.
5) Para montar a grade, são selecionadas primeiro cinco ou seis palavras, sempre começando pelas maiores. Também recebem preferência os termos com letras “A” e “R”, porque elas são frequentes no português e permitem mais cruzamentos. Pelo motivo inverso, evita-se “H” e “X”. Nos EUA, o macete é semelhante. Tanto que, lá, 7% das cruzadas usam a palavra “era” (período de tempo). Não são permitidos sinônimos ou antônimos na mesma página.
6) Só então é que são elaboradas as perguntas (chamadas de “definições”). O espaço para escrevê-las é minúsculo, então a missão é criar um desafio intrigante e claro com o menor número de caracteres possível. Por exemplo: se a resposta for “morcego”, a definição pode ser “único mamífero voador”. Com três palavras e sem conectivos, o texto já passa duas informações sobre o animal. Geralmente, leva-se um dia para criar o jogo.
7) A palavra cruzada vai para o avaliador, que faz o trabalho de um editor. Ele encontra erros, melhora as definições e faz sugestões. Normalmente, uma grade volta para o cruziverbalista pelo menos uma vez antes de ser publicada. Com a ajuda da tecnologia, erros são cada vez mais raros, mas é comum o avaliador encontrar uma maneira melhor de formular a pergunta.
8) Os cruziverbalistas também têm seus pop stars, como Will Shortz, que trabalha até hoje no jornal The New York Times. Ele foi o responsável por adotar palavras mais coloquiais e dar uma cara mais popular ao jogo. Em 2016, Will se envolveu em uma polêmica com outro conhecido do ramo: Timothy Parker, do USA Today, foi acusado de ter plagiado mais de 60 das suas palavras-cruzadas.