Aves 'policiais' encontram navios de pesca ilegal
Fonte: olhardigital
Às vezes, navios de pesca desaparecem: os capitães desligam os radares que transmitem sua localização, deixando os reguladores se perguntando se os barcos estão pescando ilegalmente. Agora, pesquisadores descobriram que albatrozes portando pequenos chips detectores podem encontrar esses navios suspeitos - mesmo em alto mar.
Após um estudo de seis meses com grandes aves marinhas, os cientistas estimam que mais de um terço dos navios no sul do Oceano Índico estão navegando disfarçados, confirmando as preocupações com a pesca ilegal ou não declarada.
No futuro, patrulhar aves marinhas pode ajudar a revelar áreas de pesca que devem ser alvo de fiscalização. A estratégia também pode ajudar os albatrozes, que podem ser mortos quando pegos acidentalmente em equipamentos de pesca ou quando comem anzóis com isca.
A pesca ilegal é uma grande preocupação para os biólogos da conservação, especialmente em áreas remotas. Na década passada, os cientistas estudaram o problema com dados de sistemas de identificação automática (AISs) em navios, que incluem faróis que enviam sua identidade, localização, direção e velocidade aos satélites constantemente. Para evitar acidentes, todos os navios com 20 metros ou mais devem ter transponders AIS. Muitos navios menores também possuem o sistema. Os dados são transformados em mapas em tempo real do tráfego marítimo, dando aos capitães uma imagem maior do que a fornecida apenas pelo radar de bordo do navio.
No entanto, esse sistema pode ser desativado, mesmo que somente a 320 quilômetros da costa - áreas denominadas zonas econômicas exclusivas (ZEE) das nações. Os pesquisadores suspeitam que os barcos desativam os AIS quando estão pescando ilegalmente ou quando querem impedir que concorrentes saibam onde encontrar uma boa captura.
Albatrozes são bons espiões. As aves, que caçam peixes, podem avistar um navio de pesca a uma distância de 30 quilômetros. Algumas espécies voam centenas ou até milhares de quilômetros procurando comida.
Para obter informações quase instantâneas das aves, os pesquisadores passaram três anos desenvolvendo registradores de dados que detectam sinais de radar de barcos e transmitem rapidamente o local via satélite. Como é improvável que os navios desliguem seu radar marítimo, usado para evitar colisões, as aves que usam os coletores de dados de 65 gramas conseguem captar sinais de navios anteriormente indetectáveis.
Em um estudo inicial de 2017, os cientistas mostraram que os albatrozes das Ilhas Crozet (cerca de 2.300 quilômetros ao sul de Madagascar) voaram por 10 milhões de quilômetros quadrados no oeste do Oceano Índico. Quase 80% deles encontraram navios.
Para o novo estudo, a equipe aumentou. Os registradores de dados foram presos às penas de 169 albatrozes. Entre dezembro de 2018 e junho de 2019, as aves encontraram 353 navios. Esses locais foram transmitidos ao laboratório normalmente em menos de duas horas. Se eles não coincidissem com a localização dos navios com AIS ativo, a equipe saberia que o equipamento estava desligado.
O resultado: 26% das embarcações haviam desativado ilegalmente seu AIS dentro da ZEE das três ilhas inspecionadas, assim como 37% dos navios em águas internacionais.
Esses números coincidem com estimativas baseadas em outros métodos. Segundo David Kroodsma, diretor de pesquisa da Global Fishing Watch, uma organização sem fins lucrativos que analisa dados do AIS, a vigilância baseada em animais melhoraria a análise dos dados, ajudando a mostrar quais áreas de pesca exigem uma fiscalização mais rigorosa.
Os registradores de dados serão implementados em março e abril nas ilhas Prince Edward, no sul do Oceano Índico, para revelar a extensão da pesca ilegal nas ilhas subantárticas. Eles também serão usados para ajudar o serviço de pesca da Nova Zelândia a entender o risco que essas embarcações representam para os albatrozes.
O novo estudo já mostrou que aves mais velhas encontram mais barcos que os juvenis. As espécies também diferem: os albatrozes errantes eram mais atraídos pelos barcos do que os albatrozes de Amsterdã. Os cientistas trabalham também em detectores menores, que poderão ser usados em outras aves e até em tartarugas.